“E agora que todo mundo sabe que você foi feito de trouxa? E como trouxa ainda gritou moralismos para seus amigos”.
A pergunta acima circulou em postagens no Face book na manhã desta segunda-feira (23/05), após o repórter Rubens Valente, da Folha da S. Paulo, divulgar as conversas do novo ministro do Planejamento, Romero Jucá, com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Na conversa transparece que combinavam como estancar a Operação Lava Jato, como mostra a reportagem: Em gravações, Jucá sugere pacto para deter avanço da Lava Jato.
O que veio à público é o que todos sempre suspeitaram, muito embora Jucá tenho corrido à CBN para negar que estivesse falando da Lava Jato. Segundo disse em entrevista à rádio, referia-se a estancar a sangria da economia: Jucá admite diálogo sobre um suposto pacto contra a Lava-jato.
Repetiu as explicações na entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (23/05) tentando mostrar que a preocupação dele era com a situação econômica. Mas, diante dos diálogos publicados por Valente (que reproduzimos mais abaixo) fica difícil acreditar que eles não falavam da Operação Lava Jato. Por exemplo, quando Machado diz que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está disposto a pegar Romero Jucá não existe relação com a situação econômica:
“MACHADO – Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”.
Ou ainda, quando o ex-presidente da Transpetro fala sobre Renan Calheiros e Eduardo Cunha, lembrando que a conversa foi em março, muito tempo antes do presidente da Câmara ser afastado do cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A conversa mostra uma preocupação sim com a sobrevida dos políticos e não a recuperação da economia.
“MACHADO – O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não”.
Ou ainda, no momento em que falam que a ficha caiu entre os políticos do PSDB, com Jucá acrescentando que “Todo mundo na bandeja para ser comido“, referindo-se ao possível envolvimento dos tucanos na lavagem.
Agora não importa como e quando Jucá cairá, a questão passa a ser outra, tanto junto ao público que apoiou o golpe que derrubou Dilma Rousseff, como junto à Procuradoria Geral da República e do Supremo Tribunal Federal.
O fato concreto, como revela o questionamento acima, feito no Face book, é que aos poucos as máscaras do membros do governo interino estão caindo e aqueles que apoiaram o golpe devem estar se questionando se foi para isso que brigaram tanto e contribuíram para rasgar a Constituição. Afinal, não reclamavam da corrupção, embora os motivos do impeachment tenham sido, oficialmente, outro: os decretos orçamentários? Como ficam aqueles que cobravam moralização da coisa pública?
Há questões que precisam ainda ser esclarecidas. A gravação, segundo a reportagem de Valente, é de março. Resta saber desde quando o procurador-geral da República Janot tem conhecimento dela e o por quê de, neste caso, não ter impedido a posse de Romero Jucá no cargo de ministro, como fez com Lula. Ou ainda, como questiona Fernando Brito no Tijolaço na postagem Supremo levou uma bofetada de Jucá. Ou o prende, ou se enterra no golpe sem exceções, “o que há de diferente nas gravações comprometedoras de Romero Jucá e Delcídio do Amaral?”
Como ele coloca, as gravações de Jucá demonstram muito mais do que as gravações de Delcídio do Amaral. Enquanto este último tentava interferir em uma delação premiada, o ministro do planejamento interino falava em interferir na operação como um todo. Diz Brito, no Tijolaço:
“A (gravação) de Jucá é incomparavelmente mais grave e comprometedora. Delcídio queria obter uma liberdade condicional para Nestor Cerveró, a fim de que ele não fizesse ou fosse econômico numa delação premiada para, depois, ajuda-lo a fugir.
Por maior que fosse o crime, ele se circunscreve em “cantar” ministros do Supremo para libertarem um homem e, assim, evitar as acusações que ele pudesse fazer a alguns, em especial ao próprio Delcídio.
Jucá diz ter feito o mesmo “diálogo” que Delcídio diz que fez ou arranjou que se fizesse, com ministros. Mas não foi para soltar um acusado, foi para dar um golpe de Estado que livrasse todos os acusados ou investigados do PMDB e do PSDB que estão na fila” (continua).
Abaixo transcrevo o diálogo entre Jucá e Sérgio Machado publicado na Folha de S. Paulo:
Data das conversas não foi especificada, ms teriam acontecido em março passado.
SÉRGIO MACHADO – Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ – Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO – Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ – Sim.
MACHADO – Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ – Eu acho que…
MACHADO – Tem que ter um impeachment.
JUCÁ – Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO – E quem segurar, segura.
JUCÁ – Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO – Odebrecht vai fazer.
JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
(…)
JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
(…)
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
(…)
MACHADO – O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ – Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
(…)
MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…
JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…
MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
(…)
MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão…
MACHADO – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.
JUCÁ – Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO – Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.
JUCÁ – Não, o tempo é emergencial.
MACHADO – É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ – Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO – Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ – Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você.
MACHADO – Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
(…)
MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…
JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…
JUCÁ – É, a gente viveu tudo.
(…)
JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
MACHADO – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato]
JUCÁ – Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento…
MACHADO –…E burro […] Tem que ter uma paz, um…
JUCÁ – Eu acho que tem que ter um pacto.
(…)
MACHADO – Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ – Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da… Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça]
13 Comentários
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O interino disse que sabia lidar com bandidos. Ministros temei, se não for mais um factóide do interino, todos que trabalham com ele, agora identificados devidamente, afinal ele foi Secretário de Segurança Pública, sabem como serão tratados.
Já que neste excelente blog frequentam profissionais do Direito, pergunto: conspiração é crime previsto nas leis brasileiras? Se nada disso que estão fazendo contra a Constituição brasileira for previsto como crime, acho que deveriam propor ao Congresso Nacional uma PEC definindo claramente o que é um golpe de Estado e as penalidades previstas. Acho que deveria ser uma cláusula pétrea, um crime hediondo e com penalidades severíssimas aos que traem nossa pátria conspirando com autoridades ou agências de outros países.
Ola, C. Pimenta. Não sou Advogado, mas já andei fuçando o assunto. Existe a Lei 7.170, também chamada de Lei de Segurança Nacional. Dá uma pesquisada no google. Existe até o Conselho de Segurança Nacional. Instrumentos legais não faltam. Por que não são usados, é o que intriga!
Abraço.
Concurso para área de corrupção do governo.
Cargos: Fraudador de Licitação- salário- 50.000,00. Assistente de Golpista-Salario-80.000,00.Golpista(nivel superior)-salario-150.000,00. Assessor de Impeachment(só pra advogado)-salario-250.000,00.
Prepare-se no Curso Vivaldino.
Apostilas preparadas pelos professores: Michael Tembler Jackson, Moreira da Silva Franco e Romero Cajú.
Ingresse nessa mama…digo, carreira de sucesso, você também.
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Cá em Portugal, ha tempos se comenta que esse golpe dos vigaristas, terminará com “um comendo o outro”, e ” o outro comendo o um”. Resultado é que vão se auto-sumirem! Ora pois, não é que já começou a comelança?
Havia o Engavetador Geral da República… Agora se vê que o Janot é o Procurador Geral do Golpe. Alguns partidários do STF dando cobertura… Os milicos garantindo a retaguarda… Enfim, eis que o golpe se manifesta e a mídia é o seu pastor!… Ei, quem fará o impeachment desses caras?
Como processar, impichar ou afastar membros do STF ? Esses caras nao querem justiça igual pra todos…
O povo e o voto
ENTÃO QUER DIZER QUE JUCÁ FAZ SUAS CAGADAS E AINDA FRITARAM O LULA… É COMO EU DISSE FRITARAM O LULA PORQUE ELES SABIAM QUE LULA ENTREGARIA TODOS OS CANALHAS SE DESCOBRISSE ARMAÇÃO ENTRE DELES. O TEMER ESTÁ NO MEIO DESSA FRITAÇÃO DO LULA. MAS JUCÁ FOI CONTRA PORQUE O CORRETO PARA ELE ERA TER O INIMIGO POR PERTO. OLHA, GRAÇAS A DEUS QUE ELE (DEUS) NÃO PERMITIU QUE LULA FOSSE MINISTRO, POIS O BOI DE PIRANHA IRIA SER ELE
“Estão todos na bandeja pra serem comidos. Aecio será o primeiro”.
Nem um mês de govêrno, e já começou o bacanal. Olha a fila! Olha a fila!
Jucá confirmou o que todos os brasileiros sempre souberam, a Presidenta Dilma é incorruptível.