Marcelo Auler
Sei que vivemos em um país capitalista, onde cada qual faz o que quer com o dinheiro que arrecada. Mas, a confirmar-se a notícia que encontrei no Glamurama do UOL – “Brasileiro desembolsa US$ 53 mi por apartamento em NY” – que compartilho abaixo, não deixa de ser um acinte saber que um brasileiro paga R$ 165 milhões por um apartamento em Nova Iorque. Mais ainda quando verificamos que a fortuna do milionário veio da exploração de um dos itens mais preocupantes da nossa sociedade: a péssima qualidade do atendimento médico no país.
Saúde, educação, segurança e moradia são questões que nos atingem diretamente. Por conta da ausência e do descaso do Poder Público, nestes setores os brasileiros sentem-se impelidos a recorrerem à iniciativa privada,
Em busca de uma boa educação, procura-se escolas privadas, pois as públicas – que no passado não muito distante eram de qualidade – foram entregues às traças.
Na área da segurança assistimos impassíveis ao crescimento das empresas privadas – muitas delas de propriedade de militares, policiais e/ou seus familiares – que tentam nos vender o que os governos deveriam nos proporcionar.
Na habitação, apesar de programas como o “Minha Casa/Minha Vida” que veio atender parte da população carente mais ainda está aquém do necessário, o déficit de moradias é enorme.
No atendimento médico/hospitalar a questão é mais gritante ainda. Sem que o Estado seja capaz de suprir suas necessidades, o cidadão foi empurrado para os planos de saúde privados, Estes incharam, enriqueceram seus donos sem que os órgãos responsáveis por fiscalizá-los exigissem atendimento decente. Paga-se caro e nem sempre se recebe o que deveria. Basta ver a situação das salas de espera de hospitais conveniados destes planos. Sem falar na baixa remuneração que eles oferecem aos médicos e profissionais da saúde em geral.
Em tempo: a notícia foi publicada anteriormente pela colunista Hildegard Angel – Brasileiros agitam o mercado imobiliário luxuoso de Nova York. Segundo ela, a confirmação da compra pelo empresário brasileiro foi noticiada pelo tabloide inglês Daily Mail.
Falo com conhecimento de causa. Em agosto de 2011 precisei recorrer ao Hospital Pasteur para atendimento de pessoa próxima. Foram cerca de dois meses frequentando-o diariamente e registrando a carência em várias áreas. Desde abril daquele ano, a exploração do mesmo estava entregue à Amil, então de propriedade de Edson Bueno, que o adquirira por R$ 90 milhões. De lá para cá, das vezes que voltei ao hospital no bairro do Méier (subúrbio do Rio), o atendimento só piorou.
A fortuna de Bueno foi construída a partir da comercialização do atendimento médico aos brasileiros, suprindo a ausência do Estado. Órfão aos cinco anos, foi engraxate quando criança e teve seus méritos em superar as dificuldades que a vida lhe impôs até formar-se médico, aos 28 anos, pela Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (depois incorporada pela UFRJ), como diz a reportagem “Raio-X do fundador da Amil, Edson Bueno, explica negócio” da revista Exame. Depois disso, cresceu administrando negócios ligados à saúde, até conseguir criar a Amil, que lidera em tamanho os empreendimentos nesse setor.
Provavelmente não lhe falte habilidade e dedicação para conquistar o que conquistou. Da venda de sanduíche de mortadela a pacientes pobres do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, (como descrito na reportagem de Talita Vaz na revista Exame) ao posto de dono da maior empresa de planos de saúde do país, Bueno trilhou seu caminho que pode perfeitamente ter respeitado todas as regras do jogo, apesar desse setor ser muito pouco fiscalizado como deveria.
O questionável é usar essa quantidade de dinheiro para a compra de um único imóvel. Trata-se, no meu modesto modo de ver, de um acinte à população brasileira que sustenta, com enorme dificuldades, os planos de saúde que enriqueceram pessoas como Bueno.
Em momentos como este, vale a pena questionar se a conta do ajuste fiscal que hoje recai sobre os assalariados e mais pobres, não deveria ser dividida também com os grandes esbanjadores. Não seria o momento de se discutir a sério a taxação das grandes fortunas? Sei que muitos criticam esta tese por entenderem que maiores impostos sobre os mais ricos, certamente afastará investidores estrangeiros do país e provocará fuga de capital.
O triste é verificar gastos como esse de brasileiros que nem sempre são perturbados pelos auditores da Receita que não se cansam de jogar na malha fina assalariados por conta dos seus gastos – comprovados – com saúde muitas vezes não superiores a R$ 12 mil, menos de 0,1% do valor pago pelo referido apartamento.
Abaixo, transcrevo a notícia que o UOL na sua página Glamurama.
O bilionário brasileiro Edson Bueno pagou US$ 53 milhões (cerca de R$ 165 milhões) em dinheiro por um apartamento no edifício One57, na região da 157 St., em Nova York. Com vista para o Central Park, o edifício é conhecido como “Vila dos Bilionários”, por conta do número de membros do clube dos dez dígitos que mantêm residência no local.
Bueno se tornou acionista minoritário da gigante do setor de saúde UnitedHealth em 2011, quando ele vendeu a Amil, empresa que fundou, para a corporação norte americana. A participação de Bueno na UnitedHealth gira em torno de US$ 900 milhões (R$ 2,8 bilhões), e representa a maior parte da fortuna pessoal dele, estimada em US$ 2,2 bilhões (cerca de R$ 6,9 bilhões) pela revista Forbes.
4 Comentários
Parabéns pela matéria.
Qdo a gente lê um assunto, seja qual for, nos faz pensar para entender o que se passa. Não é inveja, é informação!!! Pense nas consequências do que leu!!
Inveja é uma merda. Porque então não foi para o SUS. Se é ruim porque então paga o plano de saúde! Para de pagar seu pangare .
Cara, vc é desses que gostam de gozar com o pau dos outros. Que beleza!