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Del Nero na Câmara: jogo de carta marcada

Marcelo Auler

Não há como levar a sério a audiência pública em que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, participou na terça-feira na Comissão de Esporte da Câmara dos Deputados. O melhor resumo da audiência foi feito pelo meu amigo Ricardo Kotscho em conversa com Heródoto Barbeito, no portal R7Bancada da Bola só levantou a bola….., que compartilho abaixo

Foi meio que um jogo de carta marcada, em que ele se apresentou espontaneamente para dizer que não sabia de nada. Alguns jornais desta quarta-feira gastaram espaço para reproduzir o que ele falou sem qualquer questionamento. Não foi o caso da Folha e do Estadão, que publicaram matérias mais críticas.

Na verdade, não há como levar a sério o atual presidente da CBF que, inclusive, como lembrou a Folha, recusou-se a abrir seu sigilo bancário alegando justamente o motivo que lhe faria não temer apresentar suas contas: a inocência.

Del Nero depõe na Câmara dos Deputados - Foto: Alex Fernandes/Agência Câmara

Del Nero depõe na Câmara dos Deputados – Foto: Alex Fernandes/Agência Câmara

“Por que vai quebrar meu sigilo? O que fiz de errado? Não é assim que vai abrindo sua conta. O Poder Judiciário tem este poder”, argumentou.

Ora, se ele nada deve, e por estar envolvido em uma instituição cujas diretorias anteriores – das quais participou – estão envolvidas em irregularidades, ele deveria ser o primeiro a abrir mão desta sigilo, como qualquer homem de bem o faria para provar sua inocência.

Na verdade, Del Nero não estava ali para esclarecer nada. Com a ajuda da Bancada da Bola, foi evitando futura convocação.  Poucos foram críticos e questionaram para valer. Mas nada adiantou, como concluiu o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) após as respostas negativas às suas perguntas:

“Lembrei que Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Del Nero sempre jogaram no mesmo time. E que ele dizer agora que ‘desconhecia totalmente’ e ‘jamais imaginou’ qualquer indício dos ‘malfeitos’ que levaram seus sócios e parceiros, a quem sucede na CBF, à investigação e prisão, é como amigo de longa data que, vítima de amnésia, desconhece o ‘irmão’ de ontem…”

Na conversa entre Ricardo Kotscho e Heródoto Barbeita colocou-se claramente que a visita espontânea de Del Nero à Comissão de Esportes da Câmara é uma tentativa de esvaziar qualquer proposta de CPI da CBF na Câmara, tal como foi criada no Senado Federal, por Romário (PSB-RJ). Entre os deputados, já há 160 das 171 assinaturas necessárias para que a CPI seja criada. Mesmo que se contemple a exigência, a instalação da Comissão dependerá da vontade do todo poderoso presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Abaixo a conversa de Kotscho e Barbeiros:

Ricardo Kotscho e Heródoto Barbeiro, do Jornal da Record News - Divulgação

Ricardo Kotscho e Heródoto Barbeiro, do Jornal da Record News – Divulgação

Heródoto – Em relação aí ao que a gente viu… Na Câmara… Com esse depoimento espontâneo do Del Nero, presidente da CBF. Isso é uma tentativa de esvaziar a CPI, haja visto que ele já foi lá depor e disse o que mais vocês querem perguntar, hun?

Kotscho – Claramente essa é uma tentativa de esvaziar a CPI, não sei se vai funcionar. Na verdade essa audiência de hoje não serviu para coisa alguma. A Bancada da Bola… Como acontece também na CPI e coisa e tal… A Bancada da Bola se limitou a levantar a bola para o Del Nero…

Heródoto – Não para ele chutar… Ou para ele chutar ou para ele cortar, não é?

Kotscho – Exatamente, como aconteceu com Eduardo Cunha, quando também espontaneamente foi depor na CPI da Petrobrás, logo no começo.

Heródoto – É verdade, é verdade…

Kotscho – Ele pediu para ir.

Heródoto – É verdade, é verdade…

Kotscho – A mesma coisa, só elogios, abraços, só levantando a bola. A mesma coisa aconteceu hoje (ontem, 09/06). O Del Nero está na dele.

É um cara de pau fantástico. Disse que ele ficou surpreso com a prisão do Marin. Que ele não sabia de nada, desta história, dessas denúncias todas, de propina, ele nunca deve ter ouvido falar em propina, não é? Por fora, essas coisas ele não conhece. E chamou o Marin de grande companheiro. Quer dizer, ele era vice do Marin, ficou anos ali…

Heródoto – E herdeiro aqui na Federação Paulista de Futebol…

Kotscho – … na federação e na CBF. Ele era vice do Marin.

Heródoto – Na CBF, exatamente.

Kotscho – É engraçado isso. Agora, não sabe do outro, o grande companheiro, não sei o quê… Mas ele ficou surpreso. Mas, ele garantiu que não renuncia. Você pode ficar tranquilo… Del Nero…

Heródoto – Vai ficar.

Kotscho – … já disse que não vai sair da CBF. Não deve nada, então por que ele vai sair?

Heródoto – Agora, uma coisa curiosa disse aqui ontem o deputado da CPI da Nike… lembra dele ou não? O relator…

Kotscho – Eu vi, Sílvio Torres…

Heródoto – Sílvio Torres …

Kotscho – Do PSDB

Heródoto – … que ele tem uma emenda para colocar lá, dizendo o seguinte, dizendo que a CBF não pode se apropriar do nome Seleção Brasileira, nem dos símbolos nacionais, nem coisa nenhuma e transformar isso tudo em um produto que eles vendem e quem fatura é uma empresa privada chamada CBF.

Kotscho – Esta é a contradição. Eles alegam que são uma entidade privada, portanto não têm que prestar contas para ninguém. Não é? Mas, eles usam os símbolos nacionais sim e é uma enorme soma de dinheiro que está em jogo aí.  Todo esse negócio de patrocínio, direito de TV… você não imagina quanta coisa está em jogo … Então, de um lado, eles fazem o que eles querem. De outro, usam nossos símbolos e não pagam nada por isso. Pelo contrário, ganham muito.

A conversa entre os dois pode ser vista em: http://noticias.r7.com/jornal-da-record-news/videos/?idmedia=557798550cf25bc535effb3b

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