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Marcelo Auler

villas-boas-correaAo compartilhar aqui o sempre brilhante texto de Marceu Vieira, extraído de sua página marceu vieira, rendo minha homenagem a Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa, outro monstro do jornalismo brasileiro de outrora, com quem convivi, não tanto quanto o Marceu em termo de conversa e troca de informações, na velha redação do Jornal do Brasil.

Villas-Bôas se foi no dia seguinte da partida de dom Paulo Evaristo Arns. onde estiverem, estarão colocando a conversa em dia, preocupados com o futuro deste país. Ele, Villas, como lembraram Wilson Tosta e Roberta Pennafort em o Estadão, era o mais antigo dos repórteres políticos do Brasil,  morreu na noite de quinta-feira, 15, aos 93 anos, no Hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Com mais de meio século de atividade na imprensa – começou na profissão em 1948 e publicou sua última coluna, Coisas da Política, em 2011, no Jornal do Brasil, onde escreveu por três décadas

Na verdade, mais velho que o Marceu, conheci Villas-Bôas nos anos 70 quando ele dirigia a sucursal de O Estado de S. Paulo, no Rio de Janeiro, no qual trabalhou por 23 anos.Era o tempo da ditadura militar ferrenha que alguns aloprados tentam defender e outros falam em reavivá-las. Na época, a maioria dos jornalistas, no Brasil inteiro, tinha bandeiras em comum: a volta da Democracia, o fim da censura e o retorno do Estado de Direito com tudo incluído, fim da repressão, liberdade aos presos políticos, apuração dos crimes cometidos por agentes do Estado, anistia ampla e irrestrita e a volta das eleições para cargos do Executivo, municipais, estaduais e federal.

Lembro-me que íamos, ainda estudantes, para a sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na Rua Araújo Porto Alegre, ou mesmo para o antigo Teatro Casa Grande, no Leblon, assistir palestra e participar de debates que defendiam todas estas bandeiras acima. Villas-Bôas, ao lado de outros bons jornalistas, estava sempre lá repassando aos jovens sua experiência de vida.

Hoje, como fruto da democracia pela qual tanto lutamos, a categorias se divide naturalmente. Há pensamentos e posições variadas e diversas, algumas até estapafúrdias para muitos. Não há uma bandeira única que, no meu pensamento, deveria ser de Diretas Já! para substituir nesses próximos dois anos este governo que assumiu com um golpe do impeachment. Golpe que lamentavelmente, como em 1964, foi  apoiado pela maioria dos jornais. Muitos deles, naquela época – exceção das Organizações Globo – já estavam na oposição e lutavam pela redemocratização do país. OU, pelo menos, o pleno respeito ao Estado Democrático de Direito, que não tem ocorrido.

Villas Bôas e Marcos Sá Corrêa, pai e filho, dois ícones que o jornalismo perdeu. Um pendurou a chuteira pela idade, após testemunhar mais de 60 anos da nossa História; o filho saiu de campo antes da hora.em 20. Mas ambos deixaram um legado ao jornalismo e à democracia brasileira.

Villas-Bôas e Marcos Sá Corrêa, pai e filho, dois ícones que o jornalismo perdeu. Um pendurou a chuteira pela idade, após testemunhar mais de 60 anos da nossa História; o filho saiu de campo antes da hora. Mas ambos deixaram um legado ao jornalismo e à democracia brasileira.

Jornalistas como Villas-Bôas farão falta, assim com faz falta seu filho, Marcos Sá Corrêa, que em um acidente doméstico fora de hora, foi retirado do campo.

Acho que, em nome de colegas como Villas-Bôas, Carlos Castello Branco, o Castelinho, Prudente de Moraes, neto, Barbosa Lima Sobrinho e tantos outros, gerações mais novas que já se foram ou simplesmente saíram da linha de frente por motivos variados, deveríamos nos unir em torno do Domingos Meirelles e reativar a ABI para que ela passe a ter voz no cenário nacional como teve no passado, Seria uma forma de homenagearmos postumamente todas estas feras do jornalismo brasileiro que se foram, mas deixaram um legado importantíssimo, além do exemplo de vida.O pleno exercício do Estado Democrático de Direito já seria uma bandeira inicial, contra o que dificilmente algum colega se colocará em posição contrária.

Abaixo, transcrevo o início da crônica do Marceu e passo o link para a leitura completa no próprio blog dele.

Quando a morte de alguém é um pouco também a nossa

Toda vez que morre uma pessoa muito querida, e essa morte já era aguardada como a curva de um caminho decorado, a gente fica naturalmente triste. Às vezes, ficamos até mais tristes do que diante de um desaparecimento inesperado.

Mas a tristeza de uma perda inevitável, seja pela derrota pra uma doença ou pra velhice mesmo, é diferente.

A vida já me deu a compreensão particular de que choramos essas mortes, mesmo quando são muito previsíveis, porque, de algum modo, elas significam um pouco a morte da gente também. Ou são um prenúncio, um assovio nos nossos ouvidos a nos lembrar, sem dó, da passagem irremediável das coisas e de nós mesmos.

São mortes doídas, porque, além de atingirem pessoas queridas, reafirmam a nossa finitude e a de todos que a gente ama.

Foi como eu me senti ao receber a notícia da morte do seu Villas. Pra quem não teve como eu a alegria de ter convivido e aprendido com ele por um longo tempo no “Jornal do Brasil”, ou, mais ainda, por todos os dias, ou quase, daquele longo tempo, e por isso não pôde chamá-lo assim, de seu Villas, ou apenas de Villas, como ele preferia, enfim, pra quem não recebeu essa chance, explico que falo do jornalista Villas-Bôas Corrêa, o craque da análise política, o cidadão democrata, o homem apaixonado por música brasileira e futebol, o imenso conhecedor dos maiores acontecimentos da História do século XX, não só por estudá-la, mas, sobretudo, por ter ajudado a escrevê-la.

Falo do pai do também genial jornalista Marcos e do querido professor Marcelo, ele, o Marcelo, um dos fundadores do ensino médio do Ceat, nascido no Rio de Janeiro em 1983 da demissão coletiva de dez professores e um coordenador do Colégio São Vicente, acusados de “comunistas”.

continua: https://marceuvieira.wordpress.com/

Em tempo: O velório de Villas Bôas está sendo no Memorial do Carmo, zona portuária do Rio, onde deverá ser cremado por volta de 13h30.

2 Comentários

  1. ari disse:

    Um ano pesado: Villas, Evaristo Arns, Fidel. E tanto vaso ruim que não quebra vagando por aí!

  2. […] Fonte: Compartilho: “Quando a morte de alguém ….” | Marcelo Auler […]

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