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Compartilhando: JORNALISMO PRECÁRIO

Dentro da proposta de tornar este espaço um local de debates, transcrevo abaixo um comentário do jornalista brasiliense Jaime Sautchuk, um velho companheiro de muitas  batalhas nos chamados anos de chumbo. Hoje mesmo, mexendo nos meus livros, encontrei uma revista, editada nos anos 70, em que ele foi um dos primeiros a falar da Guerrilha do Araguaia (lembra-se Jaime?) Pena que está encaixotada. Vou acha-la e postar a foto dela por aqui.

Compartilho a opinião de que muitas bobagens  têm sido ditas no jornalismo atual. Hoje, em um  jornal do Rio, um jornalista conceituado – não cito o nome para não ficar parecendo fofoquinha -, no que entendi como uma campanha contra a ida de Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal, cometeu um erro típico de foca: confundiu procurador do Estado com promotor de Justiça. É um detalhe, mas mostra a falta de atenção. Ao texto do Jaime:

Jornalismo Precário

Jaime Sautchuk

É inegável que a grande mídia brasileira passa por severa crise, com crescente perda de credibilidade e vulgarização completa do que poderíamos chamar de jornalismo. Não se trata apenas da campanha aberta contra o governo federal e o PT, o principal partido de sua base. A indigência está em todos os campos.

O que vemos é um absoluto descaso pelo rigor da informação nas coberturas mais triviais e a contínua parcialidade nos temas globais. É visível o despreparo dos profissionais que cuidam das coberturas e das edições, que parecem treinados apenas para direcionar a informação. A impressão que se tem é de que esses órgãos não estão nem aí pro ouvinte, telespectador, navegador ou leitor.

Nas redes abertas e fechadas de rádio e TV proliferam os programas de entrevistas dirigidas, em que os entrevistados são escolhidos a dedo pra que falem o que o entrevistador gostaria de dizer. Nas reportagens, foi decretado o fim da investigação. O(a) repórter só trabalha com informação de segunda mão, repassada por algum relatório de algum órgão público ou entidade.

Nas redes da net surgiu a categoria do blogueiro, já vulgarizado, que escreve o que bem entende, sem que haja proteção legal e judiciária das pessoas agredidas ou difamadas por mentiras. Não há o menor cuidado com checar informações ou mesmo conferir dados históricos.

É antigo o ditame de que “se os fatos não coincidirem com a opinião do editor de Veja, pior pros fatos!”. O mais grave, porém, é que essa visão de jornalismo prolifera feito praga na lavoura. Em matérias negativas sobre algum governante estadual ou municipal, por exemplo, é comum vermos a omissão do nome do seu partido, se for o PSDB.

Mas isso abarca também as notícias corriqueiras, do dia a dia, sem falar que a maior parte delas é incompleta e sequer trazem os cinco elementos clássicos, ou seja, o “quem, quando, como, onde e porque”.

E sempre com contagiante descuido. Nos últimos dias, em uma matéria sobre o pedido de canonização de Dom Helder Câmara, uma repórter chamou a CNBB de Confederação dos Bispos do Brasil, em vez de Conferência. Tudo bem, seria uma falha aceitável da foquinha, mas a matéria foi repetida por outros repórteres e até por um âncora de noticiário com o mesmo texto e o mesmo erro.

É claro, de igual modo, que a imparcialidade não existe, pois a escolha já começa na pauta e segue pelo vocabulário usado e as informações utilizadas. É comum ouvirmos repórter perguntar ao editor se essa ou aquela informação pode entrar. Com microfone aberto, na Globo, em matéria sobre o Lavra-Jato, o repórter pergunta “o nome do Aécio pode?” e ouve um sonoro não do outro lado.

Pois bem, o assunto rende, mas o im

portante é que o tema está em debate. E a única saída que podemos vislumbrar no horizonte é uma reforma urgente do sistema de comunicação social, que assegure a liberdade de imprensa e de expressão, mas preserve os direitos dos cidadãos e cidadãs e evite o monopólio, como se faz em muitos países, inclusive nos Estados Unidos.

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