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Arnaldo César (*)

(**) Matéria reeditada às 11:00 H de 09/04/2020

O “Gabinete do Ódio”, instalado no Palácio do Planalto e comandado por Carlos Bolsonaro – “Zero Dois” para os íntimos e “Carluxo” para os demais -, nunca trabalhou tanto como nos últimos dias. A família Bolsonaro não tem feito outra coisa a não ser disseminar o pânico e provocar discórdias.  Especialmente, entre aqueles que podem ajudar o País na maior crise sanitária de toda a sua história.

O vídeo acima foi colocado nas redes sociais pelo exército de robôs pilotados por “Carluxo”, na tarde da última terça-feira (07/04). Trata-se de uma “armação”. Foi elaborado a partir de uma entrevista coletiva dada pelo chefe do Projeto de Emergência da OMS, Michael Brayn, concedida em 30/03/20. Devidamente editada pelo jornalista de extrema-direita, Trucker Carlson, da rede de televisão norte-americana Fox News. É dele o comentário que deturpa o objetivo da fala do chefe do Projeto de Emergência da OMS.

Na versão editada, o vídeo republica pequena parte da fala Brayn, fora do contexto original, de forma a provocar o medo de que famílias venham a ser separadas compulsoriamente, com o isolamento, por exemplo, de pais e filhos. Brayn, na realidade, alerta para o risco de em muitos países a cadeia de contágio (graças ao isolamento social) passar das comunidades para dentro das casas. Em consequência, defende a necessidade de que “agora precisamos visitar as famílias, testar as pessoas e isolar as doentes, de maneira segura e digna”. Não sugere, em qualquer momento, por exemplo, “apreensão de suas crianças”.

Ao descontextualizar a fala e usar o comentário de Carlson, o vídeo disseminado por Carluxo repassa justamente essa ideia da separação compulsória de pais e filhos. O que fica claro na frase do jornalista americano: “só para você saber, estamos indo nas suas casas, apreendendo suas crianças e abre aspas: “Isolando-as de maneira segura e digna”. O que quer que isso signifique”. Isso objetiva a lançar o pânico, medo.

Como se sabe, Carlson é um dos aliados inseparáveis de Donald Trump e Steve Bannon (o gênio perverso da extrema-direita americana). Ele esteve com Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo, no encontro, no dia 07 de março passado, em Miami, no clube de golfe de Trump, na Flórida.

Nas redes sociais, a disseminação do vídeo por Carluxo.

Depois do jantar, o jornalista apresentou fortes sintomas de Covid-19. Seus testes, de acordo com a publicação “Daily News, deram positivos e ele teve que ser afastado da bancada do telejornal “Trucker Carlson Tonight”, o de maior audiência da Fox News.

Para dar credibilidade à montagem e gerar indignação na militância por aqui, Carluxo precisou descontextualizar a fala de Michael Joseph Brayn da OMS. De uma entrevista coletiva, no dia 30/03, que durou 47 minutos, retirou 26 segundos. Justo no trecho em que o infectologista irlandês alertava que o isolamento social era também para impedir que o vírus atingisse as famílias dentro de casa. Com a ajuda do militante bolsominion, Rafael Glau, foram feitas as traduções e a montagem deste vídeo. Originalmente, esta armação ficou disponível no endereço de Glau, no Twitter.

“Carluxo” capturou o conteúdo e entregou à sua guarnição de robôs para espalharem a farsa pelo Sul do País. Região onde se concentra o maior número de adeptos e financiadores do pai. Foram disparados, inicialmente, para 136 mil endereços na Internet. Até o final da noite do dia 07/04, o fake news de “Carluxo” foi visualizada por 26,8 mil pessoas. Sendo que 600 delas se dispuseram a fazer comentários indignados com o isolamento social e as medidas adotadas, no Brasil, pelo Ministério da Saúde.

No canto esquerdo do vídeo, pode-se perceber que Carluxo fez questão de assinar a armação. Lá, aparecem uma pequena foto do “Zero Dois” acompanhada da frase: “Meu Deus…”. Mais do que um exibicionismo típico dos hackers na Internet, uma estúpida demonstração de prepotência.

Na entrevista coletiva da última terça-feira (07/04), o titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, fez questão de se queixar que o número de fake news, na sua área, estava crescendo de maneira exponencial. “Numa velocidade – especificou o ministro – maior que a da própria propagação do vírus que avança de maneira assustadora”.

“Carluxo”, é bom que que diga, lidera o bloco daqueles que detestam Mandetta. Entre os assessores que assopram nos ouvidos de Jair Bolsonaro é o que despeja mais impropérios contra o titular da pasta da Saúde.

Já andou inclusive escorando o ministro pelos corredores do Planalto com ameaças de demissão. Por enquanto, não foi bem sucedido em tais investidas. O que aumentou sua ira contra Mandetta. E, consequentemente, os disparos de fakes news contrariando as medidas que ele vem tomando no combate à pandemia.

Apuração da “Rede CoVida”

Boa parte do que reportamos aqui foi apurada com a ajuda da doutoranda da UFBA, Mariana Alcântara, e de especialistas da “Rede CoVida”. Trata-se de um grupo com aproximadamente 130 infectologistas, pesquisadores, cientistas, médicos, estatísticos, técnicos de T.I. e jornalistas reunidos pela Fiocruz da Bahia e da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Esses profissionais se esforçam, neste momento de pandemia, para levar informação de qualidade e credibilidade para todos os veículos de comunicação do País. Uma das missões da “Rede CoVida” é desmontar fake news muito comuns em momentos de crise extrema. A outra é encontrar meios de fazer chegar às populações de menor poder aquisitivo informações claras e práticas para que possam se proteger do coronavírus.

(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.

(**) Matéria reeditada às 11:00 para acertos de informações a partir de comentários e observações feitos no privado, pela colega Leda Beck, e nos comentários, pela leitora Eliane S M . Por possíveis erros de interpretação pedimos desculpas aos leitores e agradecemos a todos que nos alertaram.

 

 

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