Até quando os generais Hamilton Mourão e Augusto Heleno continuarão aceitando a ingrata missão de serem os intérpretes das sandices de Jair Bolsonaro? Esta pergunta tem atormentado tanto o sono da classe média brasileira que deu seu voto ao capitão falastrão quanto as elites econômicas e financeiras que depositaram todas as suas fichas no boquirroto.
Até mesmo a grande mídia perdeu a paciência com o tresloucado presidente. Os editorias dos três maiores jornais dos últimos três dias em uníssono mandam o tal presidente abandonar as peraltices sexuais na Internet para tratar das questões mais sérias do País.
O problema é que a ruptura entre Bolsonaro e seus dois filhos com os intérpretes Mourão e Heleno começa a se alargar. No escurinho dos corredores do Palácio do Planalto os “guris” falam mal abertamente do vice-presidente. Mourão e os demais generais do governo defendem-se, ordenando que o capitão se afaste de sua prole encrenqueira.
Durante a campanha e no período que antecedeu a posse tais patacoadas animavam a plateia e os eleitores de extrema-direita. Agora, geram desgastes seríssimos tanto em termos das políticas interna e externa. Na Câmara e no Senado, onde a tão propalada Reforma da Previdência terá que ser aprovada, os partidos que se consideram aliado deste governo se confessam constrangidos.
Lá fora, Bolsonaro passou a ser encarado como uma figura caricata. Enxergam-no como um governante ignorante, oportunista, cujo o empenho maior é aparecer nas redes sociais defendendo intransigentemente ideário fascistóide.
Os dois ministros apontados como técnicos e competentes – Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) – já dão mostras de fadiga. O titular da Justiça estaria analisando com carinho convite para dar aula numa faculdade de direito, na Universidade de Notre Dame, em South Bend, na região da Grande Indianápolis, Indiana, no interior dos EUA.
Trata-se, obviamente, de manha. De beicinho. É bom não esquecer que todas as vezes em que as coisas ficaram pretas para as bandas do “chefão” da Lava Jato, ele ameaçou fugir para os EUA. Agora não está sendo diferente. Mas que Moro anda apoquentado, isso anda!
A vontade de abandonar o poderoso Ministério da Justiça, passou a povoar a cabeça de Moro depois que Bolsonaro o mandou “desconvidar” a especialista em política de segurança, Ilona Szadó. Ela havia sido indicada pelo ministro para fazer parte, como suplente, do Conselho Nacional de Políticas Criminal e Penitenciária.
Paulo Guedes, o para-raios do capitão na Economia, é outro que anda possesso com seu chefe. Desde quando o então presidente mexeu por conta própria e risco nas idades limites para a aposentadoria previstas na reforma da previdência de Guedes, consta que a quantidade e o volume de palavras de baixo calão aumentaram geometricamente, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Apesar da fúria, Guedes é um homem disciplinado. Deve tenência ao mercado financeiro que exige dele a implantação da tal reforma. Mas já tem dito aos seus amigos do peito que, tão logo a reforma seja aprovada – ou não – pedirá o boné e voltará para os seus negócios.
Para o deleite geral, até o guru, astrólogo e palpiteiro-mor, Olavo de Carvalho, está agastado com seus discípulos. No seu endereço, no Facebook, postou, na última sexta-feira (08/03), a seguinte pérola: “O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses (sic) pústulas só é bom para quem seja como eles”.
É recomendável não esquecer que dois seguidores ferrenhos do furibundo Carvalho foram indicados para os ministérios da Educação, Ricardo Veléz Rodrigues, e das Relações Exterior, Ernesto Araújo. Será que ambos desejam continuar ao lado de tantas “pústulas” depois da severa espinafração passada pelo mentor que vive, atualmente, em Richmond, Virgínia, EUA?
Aqui cabe um rápido adendo. Olavo de Carvalho – que é idolatrado pelos bacuris de Bolsonaro – tem se aborrecido muito com o vice-presidente Hamilton Mourão. Especialmente depois que o vice-presidente, Paulo Guedes e o general Heleno resolveram interceptar as maluquices praticadas pelo pupilo Araújo nas relações internacionais brasileiras. Mourão, sem ter ido a Davos, na Suíça, ficou aqui do Brasil “interpretando” as falas do presidente por lá. Depois foi a Bogotá, na Colômbia, por ocasião da reunião do Grupo de Lima, controlar Araújo. Na reunião prevaleceu sua tese de não invadir a Venezuela.
O que choca até aos apoiadores do presidente e seus meninos é que eles têm por hábito falar sobre assuntos que não entendem. E, mais: por serem totalmente despreparados, formam seus convencimentos através do lixo que costumam ler e assistir nas redes sociais. Tudo é muito raso entre eles.
Já se passaram quase três meses desde que Jair Bolsonaro e sua família ocuparam os palácios presidenciais do Distrito Federal. Até agora, eles não se deram conta de que dispõem de mais de uma centena de assessores, especialistas e técnicos para lhe ensinarem o significado das coisas e dos problemas como os quais irão se defrontar.
No pronunciamento que fez, na quinta-feira (07/03), no Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio, o presidente falou de improviso. Foi aquela desgraça que todos ouviram: “a liberdade e a democracia só existem quando as forças armadas querem”.
Se tivesse ouvido um dos grumetes perfilados, na sua frente, teria sido informado que as Forças Armadas existem para defender a Democracia e a vontade soberana do povo. Neste caso, pode-se afirmar que o capitão também se pronuncia sem saber até de assuntos que, por ser militar, deveria dominar.
Ocorre que o despreparo do presidente voyeur das redes sociais começa a ter um custo financeiro ao país. A economia, como informam os indicadores do próprio IBGE, está empacada desde o governo Temer, com um crescimento do PIB pífio, de 1,1%. Por isso, isso é que é pibinho para ninguém botar defeito!
Enquanto Bolsonaro continua fazendo suas macaquices em público ou pelas redes sociais, nenhum empresário por mais ousado que seja volta a investir no País.
O mesmo pode-se dizer dos investidores estrangeiros. Observem o que acontece na cidade de Macaé. Com todas as benesses concedidas pelo atual e o anterior governo, as petroleiras e seus fornecedores continuam operando em banho-maria. Investimentos só os de manutenção das infraestruturas e dos capitais aplicados na exploração de óleo na Bacia de Campos.
Naquele mesmo escurinho do Palácio do Planalto citado no início deste artigo já se começa a tratar de uma possível saída para este imbróglio. Em um primeiro momento, pensa-se numa forma de tutelá-lo. Isso os generais já passaram a fazer. Um segundo estágio será admitir a hipótese de interditá-lo.
Enquanto isso não acontece, o baile segue agitadíssimo com muitas caneladas na pista de danças. Presidentes tresloucados não chegam a ser novidade na história recente desta República. Jânio Quadro, por exemplo, durou sete meses. Renunciou pouco dias após a foto histórica de Erno Schneider, então no Jornal do Brasil, sem saber que caminho seguir. Tal e qual a belíssima ilustração do Aroeira, no alto deste artigo, retrata estar acontecendo com o capitão-presidente. Façam suas apostas!
(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.
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