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Arnaldo César  (*) 

Charge originalmente publicada por Genildo Ronchi em 08/01/2018.

Em 1992, poucos meses antes de ser catapultado pelo impeachment, Fernando Collor contratou a temida agência de investigação norte-americana Kroll para passar um pente fino na vida de todos os integrantes da CPI Mista que se ocupou da sua destituição.

Formada por espiões da CIA e do Mossad, a Kroll era capaz de bisbilhotar a vida de qualquer ser vivente no planeta, em questão de segundos. Isso deixou os senadores e deputados federais da época com a pulga atrás da orelha.

Miro Teixeira (então no PDT-RJ) convocou titulares e suplentes para uma conversa, às portas fechadas, na biblioteca do Congresso. Precisavam analisar com cuidado a manobra marota feita por Collor.

O parlamentar fluminense abriu sua fala enfatizando que se alguns dos presentes tivessem algum tipo de envolvimento com falcatruas das brabas deveria falar, naquele momento. Caso contrário, a CPI e o Congresso Nacional iriam sofrer a maior desmoralização das suas respectivas histórias.

No fundo da sala estava o senador pernambucano Ney Maranhão (do extinto PRN-PE). Foi uma figura folclórica que gostava de ser chamada de “senador dos boiadeiros”. Pertencia à tropa de choque que defendeu Collor.  Com toda a aspereza que lhe era característica indagou:

“Dr. Miro, nisso que o Senhor está referindo, vale coisa de rapariga?”.

Um dos presentes, um pouco mais letrado, retrucou: “Como, Senador?”

Maranhão clareou: “chamego de xibio”.

Não foram necessários outros esclarecimentos. Todos já tinham entendido do que se tratava. Imediatamente, deliberaram que problemas de relações extraconjugais não afetariam o andamento das investigações. E, se por acaso a Kroll acusasse alguém de infidelidade, ele próprio resolveria a parada.

Esta história faz parte do folclore e do anedotário de Brasília. De qualquer forma, bons tempos, aqueles em que os parlamentares tinham algum prurido! Bons tempos, quando a Kroll tirava o sono de homens públicos, neste País!

Temer se sua trupe resistiram a ceder as cabeças na CEF. Mas, como temsido de hábito, recuaram. (Foto Marcelo Camacho/Agência Brasil)

No mais recente escândalo que sacode a “República dos Golpistas”, referimo-nos ao da roubalheira na Caixa Econômica, a agência de espionagem de Nova Iorque trabalhou ao lado do escritório paulista de advocacia Pinheiro Neto, responsável pela elaboração do documento que sugeriu o imediato afastamento dos 12 vice-presidentes daquele secular banco brasileiro.

Tanto a Kroll quanto o escritório Pinheiro Neto foram contratados pelo Conselho de Administração da Caixa que temia uma intervenção por parte do Banco Central ou pelo Banco da Basiléia, na Suíça (uma espécie de banco central dos bancos centrais).

O escândalo que fervilhava, nos porões do Planalto, há mais de duas semanas, só teve um desfecho no início da noite de terça-feira (dia 16/01). Como já é da rotina, um clima de barata voa tomava conta daquele Palácio.

Temer e sua camarilha (em especial Raimundo Padilha e Moreira Franco) resistiram até onde deu.

Assim mesmo, só autorizaram o afastamento de quatro dos 12 vices envolvidos na rapinagem. Saíram com viés de volta. Vão apenas aguardar que a poeira abaixe. Depois retornam para fazer, exatamente, o que vinham fazendo.

Um dos atingidos pelo transitório castigo, Roberto Derzié Sant’Anna, entre outras coisas, burlava o sigilo bancário, informando a Temer e a Moreira, sobre as grandes operações financeiras realizadas pela instituição.

A situação ficou tão nebulosa, que até o “ínclito” ministro da Fazenda, Henrique Meirelles e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, pensaram em chutar o pau da barraca, pegar o boné e voltar para o aconchego de seus antigos patrões (leia-se Banco Itaú).

O afastamento dos quatro, mesmo arrancado a fórceps, deixou-os mais mansos. No presente momento, a dupla Meirelles/Goldfajn manobra para que o novo regulamento da Caixa seja colocado, em prática, na semana que vem. Assim, a diretoria toda será demitida. Novos nomes seriam indicados, sem a interferência do pretenso presidente da República.

Se isso vai acontecer de fato, ainda é muito cedo para garantir. Historicamente, a Caixa Econômica, desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso, é a “joia da coroa” que os governantes entregam para obter o apoio do PMDB. Temer e seus capangas não pretendem, de maneira alguma, entregar o preciso “cofrinho” para ser tocado por técnicos de carreira.

Afinal de constas, “coisa de rapariga” só fazia sentido no Brasil do século passado.

Hoje em dia, o que, realmente, tem valor são malas e caixas de papelão abarrotadas com notas de R$100, escondidas num apartamento vazio, em Salvador. O resto é papo de amador!

(*) Arnaldo César Ricci Jacob é jornalista e colaborador permanente deste Blog.

 

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1 Comentário

  1. Benedito disse:

    O caso Temer é caminho sem volta. Pra ele, com esse laudo médico de pinto entupido, nem mais Chamego de Xibiu resolve.
    E o Brasil assistindo calado.

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