Fala Mangueira, fala!
7 de setembro de 2015
O “Mensageiro da Morte”: o agente “Guarany”
11 de setembro de 2015

Marcelo Auler

Compartilho no blog um artigo escrito por Carlos Conde, amigo antigo, ainda da época do Jornal de Brasília, que esteve hospedado conosco e depois nos presenteou com esta cronica publicada na Tribuna de Santos, jornal do qual doi Diretor de Redação por muitos anos. A antiga amizade me faz perdoá-lo pelos exageros que ele comete e a maneira como terminou seu belo texto.

 

Ave, Rio!

Carlos Conde *

Não preciso de pretexto para ir ao Rio de Janeiro.  Me basta a paixão que sinto por essa cidade. Desta vez, porém, fui enlaçado por uma razão especial: o aniversário, com números redondos, do meu querido amigo Marcelo Auler. Era tentação demais neste delicioso período de ócio criativo que estou vivendo.

(…)

Cristina e Carlos Conde na Vista Chinesa (Foto: Marcelo Auler)

Cristina e Carlos Conde na Vista Chinesa (Foto: Marcelo Auler)

Num tempo em que o jornalismo, excluídas as raras exceções, se apequena com matérias mal apuradas e textos  burocráticos, Marcelo é um repórter investigativo do primeiríssimo time, que pesquisa exaustivamente e ostenta um estilo elegante. Qualidades que lhe colocaram na bagagem dois prêmios Esso nacionais.

Ele vive com sua Beatriz em Laranjeiras, pedaço  encantado de um Rio onde a natureza resolveu erguer sua obra-prima. Num apartamento elegante eles curtem seu idílio sem mácula. Ficam quase soterrados por centenas de jornais, livros e CDs. E animados por dois cachorros e uma gata: Tom Jobim, Toquinho e Elis Regina. Foi nesse refúgio que Cristina e eu acabamos de desfrutar seis dias esplêndidos.

O poeta Gilberto Gil foi excessivamente econômico quando disse que o Rio de Janeiro continua lindo. Mais justa foi a marcha carnavalesca Cidade Maravilhosa, que se tornaria seu hino informal. Ali, às margens da baía da Guanabara, gosto de buscar belezas naturais, a história brasileira em cada esquina, o estado de espírito carioca e as benesses da capital cultural do País.

Saio de Laranjeiras e dou um pulo bem perto, ao Palácio do Catete. Na Sala de Reuniões me deparo com as doze pastas verdes de couro dos ministros. Fecho os olhos e me vejo naquela madrugada trágica de 24 de agosto de1954. Os ministros militares exigem a renúncia do presidente Getúlio Vargas. Ele se recusa e dá um tiro no peito.

Reflito que o golpismo vai e vem, mas nunca se despede para sempre. Na época, arquitetado por um brilhante tribuno destrutivo que era Carlos Lacerda. Agora, estimulado por um político medíocre, oportunista e rancoroso como Eduardo Cunha.

Mas logo me recupero desses maus pensamentos e subo o morro de Santa Tereza. Refaço a caminhada do poeta santista Ribeiro Couto em direção à casa do seu amigo Manuel Bandeira,  parceiro de versos.

Embrenho-me no frescor da floresta da Tijuca. Chego à Vista Chinesa para a contemplação do cenário paradisíaco da cidade lá embaixo, sob o céu azul anil do entardecer. E desfilo pelos botequins de Botafogo.

Desta vez não vou ao seu morro, mas ouço ao longe os tamborins da minha Mangueira. Outro som que me enternece é o de Matriz e Filial, samba de dor de cotovelo do inspirado compositor santista Lúcio Cardim, que Jamelão consagrou. Eu o ouvi pela primeira vez aos 17 anos, em um baile do Sirio Libanês, nos seus salões originais da Ana Costa, defronte ao Parque Balneário. A orquestra era a Tabajara, de Severino Araújo. E o cantor, o próprio Jamelão.

Piso no gramado do novo e sinto saudade do velho Maracanã, apesar de lembrar que meu tio José estava chorando ao lado de 200 mil torcedores no então recente estádio. Era a tarde, dolorosamente inesquecível, de 16 de julho de 1950. Em Santos, na casa de meu avô Abreu, meu tio Milton também chorava, junto ao rádio. Na inocência da minha meninice, jogando botão, eu não entendia que tamanha tristeza era aquela. Só depois descobri que era a perda da Copa do Mundo para o Uruguai. O Maracanazzo. Se prefiro o velho Maraca é porque ali o Santos, o adorado Peixe, ganhou seu maior troféu, o de bicampeão mundial.

São passeios e lembranças que o eterno Rio de Janeiro inspira. Mas nem tanta paixão por uma cidade me impede de sempre provocar cordialmente meus amigos cariocas. Perdoado por seu sorriso benevolente, eu digo a eles que a verdadeira Cidade Maravilhosa é… Santos!

* Carlos Conde é jornalista, santista roxo duplamente (natural da cidade e torcedor do clube) e casado com a fantástica Cristina.

1 Comentário

  1. Marilda Varejão disse:

    Foi uma grata surpresa encontrar o Carlos Conde no Blog do Marcelo. Sequer sabia da amizade entre meu ex-chefe — Conde e eu trabalhamos juntos na sucursal do Correio Braziliense, em São Paulo — e o querido Marcelo, cuja festança de aniversário esse ano, infelizmente, eu não tive condições de participar. Mando um beijo muito carinhoso aos dois e digo: Conde, a Cidade Imperial de Petrópolis também aguarda uma visita sua!
    Marilda Varejão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com