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Marcelo Auler

Não vou esperar f**** alguém da minha família. Troco todo mundo da segurança. Troco o chefe, troco o ministro”.

Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos: vã tentativa de beneficiar o presidente (Foto: reprodução do JornalGGN)

Na vã tentativa de socorrerem o chefe, três genreias/ministros do presidente Jair Bolsonaro – Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) – enveredaram por um discurso no mínimo ridículo. Tosco. Patético.

Foi na terça-feira (12/05), ao compareceram na Polícia Federal para os depoimentos no Inquérito (INQ) 4831, aberto por determinação do ministro Celso de Mello, do STF. Nele se investiga as possíveis tentativas de ingerência do presidente no Departamento de Polícia Federal (DPF).

O ridículo é ainda maior para o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Tentar justificar a frase na epígrafe deste texto, que o presidente – com seu palavreado chulo – pronunciou na sinistra reunião ministerial de 22 de abril como sendo referência à questão da sua segurança pessoal é, no mínimo, piada. De mau gosto.

Todos sabemos, e o general Heleno mais ainda, que segurança de presidente não tem chefia no Rio de Janeiro. Trata-se de chefia nacional. Única. Comandada justamente pelo ministro-chefe do GSI. Ou seja, o próprio Augusto Heleno. Logo, Bolsonaro não poderia estar se referindo à demissão de um chefe da segurança no Rio. Afinal, não poderia demitir alguém de um cargo que não existe.

No depoimento de Braga Netto a ridícula explicação.

É fato que o GSI possui um escritório de representação na capital fluminense. Conta com alguns gatos pingados de agentes. Ficam à disposição da segurança da família do presidente – que não frequenta o Rio. Aliás, o próprio filho 02, Carlos Bolsonaro, embora vereador da Câmara Municipal da cidade, vive mais em Brasília do que onde deveria representar seus eleitores. Ele, ao que consta, mesmo no Rio dispensou tais seguranças. Quer liberdade de ir e vir, sem correr o risco de futricas.

Mesmo sabendo-se da existência de tal escritório, o certo é que o comando da segurança pessoal do presidente está no Palácio do Planalto. De lá, controla-se – ou se tenta – controlar tudo. Todos sabem, por exemplo, que os deslocamentos dos presidentes da República são precedidos da chamada “equipe precursora”. Trata-se dos seguranças e assessores que, saem de Brasília antes para acertarem os bastidores e prepararem a chegada do chefe do Executivo.

Aliás, foi em uma equipe precursora – a da viagem do presidente Jair Messias Bolsonaro à reunião do Grupo dos 20, no Japão, em junho de 2019 -, que estavam o sargento da aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, preso na escala em Sevilla, na Espanha, com 39 quilos de cocaína. Um caso misterioso intrigante que até hoje ao governo não interessou explicar corretamente.Deixaram toda a responsabilidade no militar preso. Trataram de esquecer o fato.

A questão pode não ser o filho

Ou seja, é ridícula a tentativa dos ministros Heleno, Braga Netto e Ramos tentarem escamotear que a fala do presidente era referência direta à situação da Polícia Federal. Em especial a superintendência do Rio. Afinal, o desejo dele de mudar o superintendente do estado onde ele foi criado e fez carreira política é antigo. O próprio já admitiu publicamente.

Pode não ter revelado os reais motivos, justificando com a injustificável falta de produtividade. Balela pura. Ele jamais ligou para isso. Basta constatar que no entorno dele há muito mais improdutividade. Vinda de diversos ministérios e não de segundos e terceiros escalões.

Também é bobagem ficar buscando em qual caso policial Bolsonaro tem interesse. Realmente, como já explicamos em um dos programas Bom Dia da TV 247 recentemente, as principais investigações em torno dos malfeitos (para não se falar em possíveis crimes) de seu filho Flávio, não são tocados na esfera federal.

Tanto o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, bem como o caso da ”rachadinha” no seu gabinete da ALERJ estão a cargo do Ministério Público do Estado do Rio e da polícia civil. As investigações em torno de Carluxo e Eduardo, possivelmente ligados à disseminação de Fake News, correm junto ao Supremo Tribunal Federal, longe do Rio.

Restava, é verdade, o caso eleitoral, que a Polícia Federal propôs arquivar. Resta saber se com razão ou não. Caberá ao Ministério Público Eleitoral e o próprio Tribunal Regional Eleitoral do Rio analisarem tal pedido.

Interesses podem ser muitos

Porém, cabe lembrar que até hoje – decorridos mais de 18 meses – o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tomou nenhuma providência com relação às Fake News que os Bolsonaros usaram na campanha de 2018. Logo, constata-se que a família presidencial não tem muto que se preocupar com a investigação que corria contra o senador Flávio na Polícia Federal do Rio na área eleitoral.

Os interesses dos Bolsonaros podem ser muitos. O principal, como ele mesmo declarou, é ter alguém na superintendência para fazer uma espécie de interface. Diálogo direto, sem intermediação de ministro da Justiça ou de Diretor-Geral do DPF. Os motivos, ainda não são – e talvez nem cheguem a ser – claros.

Cabe, porém, lembrar o início do primeiro governo Lula, em 2003. O Rio vivia uma das muitas crises na segurança pública que protagonizou. Foi agravada, em setembro de 2002, com o assassinato do traficante Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, pelo adversário Fernandinho Beira-Mar, dentro da penitenciária. Houve então uma decisão política de investir nessa área.

Surgiu assim a chamada Missão Suporte, comandada pelos delegados federais Luís Fernando Corrêa e José Mariano Beltrame. O primeiro, depois tornou-se Diretor-Geral do DPF. O segundo virou Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Foi feito um fortíssimo investimento federal em tecnologia de investigação, a começar pela compra dos chamados Guardiães. Eram sofisticados aparelhos com softwares que permitiam mais do que simplesmente captar conversas telefônicas dos alvos. Produziam cruzamentos de informações variadas.

Como bem lembrou ao BLOG um delegado federal que teve ativa participação naquela decisão, a Superintendência do DPF no Rio passou a produzir uma quantidade enorme de informações de inteligência policial. Foram os embriões de algumas grandes operações que acabaram dando fama a Beltrame.

Tais informações, como lembrou nossa fonte, sempre podem ser usadas para o bem – como o combate à criminalidade -, como para o mal – a perseguição a inimigos ou desafetos.

Dependerá das mãos de quem elas cairão. Até hoje não se soube de nenhum presidente da República que tenha pretendido recorrer a tais informações nas suas lutas políticas. Ou mesmo nas desavenças pessoais. Mas também jamais existiu algum presidente que tenha brigado com seu ministro da Justiça por conta da nomeação de um superintendente no DPF. Ocorreu agora.

 

 

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2 Comentários

  1. Onézimo Sousa disse:

    Meu caro Marcelo,
    Vc só não mencionou o trabalho precursor que iniciei no Rio.
    Por sinal, muito bem abordado no seu livro “Enjaulados”.
    Um abraço,
    Onézimo Sousa

    • Marcelo Auler disse:

      Prezado dr. Onézimo
      Prazer enorme em tê-lo como leitor. Realmente foi esquecimento meu. Mas eu também tinha esquecido a operação citada, fui lembrado por um colega seu que preferiu não aparecer. Porém, acho que não faltará oportunidade de relembrar seu trabalho feito com muita dificuldade. Talvez eu até precise reler o Enjaulados. Grande abraço.

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