A bolsa de valores, assim mesmo em letra minúscula, reagiu positivamente à notícia da eleição para a Câmara dos Deputados e do Senado Federal, dando boas-vindas aos eleitos. Não se sabe bem as razões de tanta euforia.
Será pela perspectiva de uma pauta de costumes reacionária e em virtude da qual o Brasil poderá ser visto pela comunidade internacional como país atrasado e desconectado de um auspicioso ambiente de
negócios?
Será porque a devastadora política ambiental vai continuar a frutificar em prejuízo das nossas vidas?
Será porque Paulo Guedes, representante do capital financeiro, terá condições de impor a sua política de canibalismo contra o trabalhador público e privado, para continuar a submeter as riquezas nacionais aos
interesses dos banqueiros sem que haja qualquer tipo de controle?
Ou será porque o comércio de arma de fogo em território nacional continuará a vicejar?
Na verdade, todas essas questões só demonstram que estamos caminhando a passos largos para a falência das instituições públicas, destruindo de vez o Estado liberal democrático para implantar em seu lugar algo que não se sabe bem o que é, mas que atenderá aos sórdidos interesses de uma classe que não tem o menor pudor em tratar as pessoas e o país.
Só isso pode explicar a excitação do capital financeiro, refletida na bolsa de valores e no câmbio, com os últimos acontecimentos políticos.
O fato de morrer cada vez mais gente de COVID 19 não influencia os ânimos do capital financeiro: a bolsa sobe quando o noticiário revela que aumenta o número de mortes no país; a bolsa desce quando o SUS é destacado no mesmo noticiário ou é objeto de elogios em discursos de poucas autoridades.
A bolsa cai quando os mais velhos são vacinados e podem ter esperança de continuar a viver com os proventos da aposentadoria que recebem; a bolsa sobe no momento em que o desemprego cresce enquanto a floresta amazônica arde em chamas.
A lógica do capital financeiro é perversa.
Vamos acreditar que, embora no horizonte se avizinhem reformas que vão falir com a esfera pública para deleite de seus algozes livrando-os dos legítimos e necessários mecanismos de controle, seja possível à
estrutura institucional do país resistir com coragem e denodo aos açougueiros que infestam a economia brasileira.
Tenhamos fé.
(*) Leonardo de Souza Chaves, Professor da PUC/RJ, Procurador de Justiça do MPRJ e autor do romance DESORDEM
Artigo originariamente publicado em Conexão Jornalismo
1 Comentário
Muito importante o seu relato, Marcelo. Aponta a virulência e os métodos antidemocráticos desses grupos e mostra toda a contradição deles, que, a exemplo do general Villas Boas, se queixam que a imprensa não dá cobertura às manifestações, mas ao mesmo tempo, rechaçam o trabalho da imprensa. Tá na hora desse pessoal Jair embora.