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Marcelo Auler

Três fatos aparentemente distintos mostram bem que a crise que se vive hoje no país não é apenas política. Tem outros ingredientes, que envolvem mais a formação pessoal dos protagonistas do que um simples posicionamento político. A eles:

Gleisi Hoffman falta moralFato 1:  Na quarta-feira,(25/08) a senadora paranaense Gleisi Hoffmann (PT) foi massacrada no plenário do Senado Federal quando questionou aos seus colegas de parlamento:

Qual a moral desse Senado para julgar a presidenta da República?”.  “Qual é a moral que tem os senadores aqui para dizer que ela é culpada, para cassar? Quero saber. Qual é a moral que vocês têm?”

 

Fato 2: Nesta terça-feira (30/08), a coluna Painel da Folha de S. Paulo noticiou:

Roberto Rocha (PSB-MA)Senador do PSB ganha promessa de diretoria no Banco do Nordeste para votar contra Dilma

Fica, vai ter cargo O senador Roberto Rocha (PSB-MA) será contemplado com uma diretoria do Banco do Nordeste em troca de voto favorável ao impeachment.

Não se afobe, não A oferta veio após o congressista ser procurado por Lula. Assim que soube do encontro, Temer agiu para evitar que Rocha pulasse para o lado de Dilma Rousseff.

Seria interessante o ministro Ricardo Lewandowski, presidente da mais alta corte do país e jurista de carreira, explicar o que aconteceria caso, no meio de um julgamento por ele presidido, surgisse a informação de que um dos jurados recebeu uma oferta de emprego de uma das partes envolvidas?

Fato 3: A vice-procuradora Geral da República Ela Wiecko de Castilho pediu para ser dispensada do cargo nesta terça-feira (30). Segundo nota da assessoria de imprensa da Procuradoria Geral da República, o procurador-geral Rodrigo Janot aceitou o pedido e assinou a portaria que será publicada no “Diário Oficial”.

ella wiecko de CastilhoA decisão de Ela, uma respeitada subprocuradora, com longa folha de serviços prestados à instituição, deveu-se ao fato de repetir à Veja, um Segredo de Polichinelo

Em junho passado, nas férias, ela participou de um curso de verão, em Lisboa, com o professor Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra. Ali, professor e alunos fizeram uma manifestação contra Temer, gravada em vídeo retransmitido no Brasil pela TVT e hoje divulgado pelo site da revista.

A própria Veja registrou que a vice procuradora “aparece segurando uma faixa onde se lê “Fora Temer. Contra o golpe!” –  de óculos escuros, aparentemente envergonhada, sem a empolgação dos demais, mas participando do ato”.

Procurada pela revista, a vice-procuradora questionou: “Não posso pensar nada? Não posso ter liberdade de manifestação? Isso é um pouco exagerado. Fui discreta, estava junto, e não tive protagonismo maior. (Isso) é um patrulhamento que impede a pessoa de ser o que ela é.”

Quem conhece os bastidores da PGR sabe que o motivo maior da raiva de Janot foi a pergunta feita pela colega, no final da sua declaração à revista, entendendo que ela revelou uma informação sigilosa. Sigilosa?

Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição (Ministério Público Federal). Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Não me agrada ter o Temer como presidente. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está”.

Não só ela sabe, mas todas as torcidas de futebol e mais alguns já tinham conhecimento disso. Ela nem precisava ser vice-procuradora para sabe-lo, afinal, os próprios operadores da Lava Jato trataram de vazar a informação para a imprensa. Mas, diante das críticas, Ela entregou o cargo e manteve a honra e a dignidade.

Ou seja, um senador, segundo o noticiado, recebe promessas de cargos em pleno processo de julgamento político que mexerá com a vida do país e nada se fala ou se cobra do mesmo. A vice-procuradora, mesmo sem ter revelado nenhum segredo, entrega o cargo. E a senadora foi massacrada quando questiona a moral do colegas. Ela tinha ou não razão?

Pode-se dizer que a crise é meramente política?

6 Comentários

  1. Armando COELHO NETO disse:

    Sociedade de aparências, dominada pelo que há de mais porco e vil. PF, STF, voto tudo é farsa. Pra inglês ver e em proveito próprio e pequenas concessões para manter aparencias. Em que lugar civilizado do mundo um covil de ladrões seria presidido pela Corte Suprema? Ora, pois. Não sou eu que sou corrupto. Corrupto é quem legitima um golpe pra manter uma sociedade corrupta. O golpe é mero exemplo. Parlamento podre mantido pelas elites. Dilma nao tinha base porque não comprou. Não hiuve diálogos ou barganha? Dilma crime zero, juízes ladrões. Eis a moral de que fala a senadora. Arrrrr! Cuspppp!

  2. C.Poivre disse:

    Paiva tem razão, a liderança do Golpe de Estado esteve nas mãos da escória política e institucional do país. E a Senadora Gleisi Hoffmann está certíssima, pois pelo menos 39 senadores respondem a denúncias sobre os mais variados crimes, como revelado pelo DCM:

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/de-a-aecio-a-z-zeze-perrella-a-ficha-suja-dos-espertos-no-hospicio-de-renan-por-kiko-nogueira/

  3. […] confiança que ocupava simplesmente por ter desagradado a Rodrigo Janot – como reportamos em Quando a honra fala mais alto – ao dizer o que todos já […]

  4. João de Paiva disse:

    Vou repetir aqui os comentários que postei no GGN, sobre esta mesma notícia.

    “Prezados leitores,

    Ela Wiecko tem recebido justas homenagens e reverências pelo trabalho que sempre desempenhou em prol dos direitos humanos. Mais de uma vez ela já demonstrou a integridade de seu caráter e a atenção que sempre dispendeu em relação aos desfavorecidos ou excluídos socialmente.

    Entretanto discordo daqueles que consideram adequado ela ter pedido exoneração, após publicação de reportagem numa revista que faz jornalismo de esgôto. Mais ainda: ela concedeu entrevista a essa esgotífera publicação. Vejo aí dois erros e não uma suposta coragem de enfrentar o PIG. O fato de Ela Wiecko ter participado, no exterior e durante o período de férias, de manifestação contra o golpe de Estado em curso no Brasil não constitui impedimento legal ao exercício da vice-procuradoria geral da república e não a inabilita ao exercício de tal função. Corajosa ela seria se dissesse aos repórteres da revista que pediria exoneração se e quando os delegados da PF – que hostilizavam Lula, Dilma e o PT, nas redes sociais e ao mesmo tempo faziam campanha em apoio a Aécio Cunha – fossem exonerados ou pedissem exoneração dos cargos que ocupam ou se afastassem das investigações da Farsa a Jato. Da forma como aconteceu, Ela Wiecko capitulou e concedeu mais uma vitória ao PIG e aos golpistas.”

    “É bom não se enganar com Rodrigo Janot, o rei do cinismo e da dissimulação. Releia tudo sobre a atuação dele na PGR, principalmente depois que foi reconduzido ao cargo e no âmbito da Farsa a Jato. Considero pouco provável que Ela Wiecko tenha apoiado a atuação de Janot; talvez por isso ela tenha participadao da manifestação contra o golpe, no exterior, quando estava em férias, e aproveitado o momento da divulgação desse fato numa revista semanal, para pedir exoneração. Mas o erro dela reside justamente aí: se corajosa, ela NÃO deveria pedir exoneração, já que a manifestação dela NÃO constitui impedimento legal ao exercício da vice-procuradoria geral da república. Na entrevista ela deveria ter deixado claro que só pediria exoneração se, e quando, os delegados aecistas fizessem o mesmo. Aí, sim, ela se mostraria corajosa e valente. Tal atitude transferiria ao PGR, Rodrigo Janot, o constrangimento de exonerá-la. Seria ‘um gol de placa’ moral, político e histórico. Infelizmente Ela Wiecko capitulou e deixou a História passar por ela, sendo apenas coadjuvante e não protagonista.”

    • João de Paiva disse:

      Em tempo:

      Os comentários que republiquei dizem respeito ao pedido de exoneração feito por Ela Wiecko, até então vice-procuradora geral da república. Sobre o farsesco golpeachment em vias de se consumar no Senado, os brasileiros bem informados e de boa índole sabem de que ela estão a verdade histórica, a honestidade e a integridade; quem tem essas qualidades é contra o golpe. Os golpistas são o estrume e o esgôto, cujo destino é o lixão da história.

  5. José nascimento disse:

    Amanhã certamente Dilma será retirada da presidência da República. STF será acionado para que aprecie a seguinte questão: houve crime de responsabilidade? Não tenho dúvidas que o STF irá se acovardar…alegará que seria intromissão indevida em outro poder…etc…etc…é a saída mais fácil…e menos digna…humildemente, entendo que a ocorrência do crime de responsabilidade é condição de procedibilidade para o julgamento final pelo Senado…havendo crime de responsabilidade…o Senado pode afasta lá ou não…isso é o senado que decide, ninguém pode interferir…motivos vários podem fundamentar a permanência do chefe do executivo, mesmo caracterizado o crime de responsabilidade….o contrário não é possível…não havendo crime de responsabilidade, não se pode afastar…entendo que o crime de responsabilidade por ser condição de procedibilidade pode e deve ser objeto de apreciação junto ao STF….imagine vc, num futuro não muito distante, um bando de aloprados destituirem um presidente democraticamente eleito sob a alegação do cometimento do crime de responsabilidade, cuja conduta delituosa é peidar na sala…se os nobres parlamentares aloprados julgarem que peidar na sala configura crime de responsabilidade, como é que fica? Parabéns pelas matérias Auler…sou seu fã!!!

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