Pingue-pongue traiçoeiro
12 de setembro de 2016
As parábolas de um golpista
13 de setembro de 2016

PF omitiu detalhes dos supostos “terroristas tupiniquins” e não tem provas de qualquer atentado

Marcelo Auler(*)

(**) Veja  uma correção importante :

Na ficha de identificação de Antônio, a data do nascimento do filho que estaria sendo treinado para  ser um integrante do Estado Islâmico: e que não constou dos relatórios policiais.

Na ficha de identificação de Antônio, a data do nascimento do filho que estaria sendo treinado para ser um integrante do Estado Islâmico: e que não constou dos relatórios policiais.

Dentro do espírito do Estado Policial que o governo Temer impõe ao país, há quase dois meses 15 pessoas estão presas, sem culpa formada, no que pode ser entendido como “prisão para averiguação” que a Constituição de 1988 derrubou. São apontados como possíveis terroristas ligados ao Estado Islâmico (conhecido como EI ou também  ISIS ou DAASH).

Se dependesse do Instituto Nacional de Criminalística do Departamento de Polícia Federal (INC/DPF), as prisões se estenderiam por mais dois meses e meio. Foi este o prazo solicitado à justiça para o envio dos laudos do material apreendido nas buscas feitas em 21 de julho. Sem os laudos, o caso tenderia a ficar parado. A solicitação, porém, foi rejeitada pelo juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que estipulou às 18hs da quarta-feira, 14/09, para a entrega dos documentos.

Curiosamente, nos autos do inquérito 5023557-69.2016.4.04.7000, a Polícia Federal omitiu informações nos relatórios enviados ao juiz Josegrei ao fazer os pedidos de prisão temporária e de buscas e apreensões iniciais, que atingiam então 12 suspeitos.

Deixaram de explicar, por exemplo, que um menor que nos diálogos aparecia como sendo treinado para ingressar na organização terrorista, tinha então quatro meses de idade, pouco mais de dez meses quando o pai foi preso em 21 de julho e um ano completado no último dia 5 de setembro.

Também omitiram do juiz o estado civil de um dos suspeitos, que há oito anos vive uma relação homo-afetiva, registrada em cartório há cinco anos como União Estável. Os adeptos do Estado Islâmico juram de morte homossexuais, como mostrou o atentado a uma boate em Orlando (EUA).

Acusados de tentarem criar no Brasil uma célula do EI  e de planejarem ataques terroristas nas Olimpíadas, 13 deles foram indiciados nos crimes de “promover a organização terrorista'” e “realizar atos preparatórios de terrorismo” (ambos conforme a Lei 13.260/2016). Onze ainda são apontados pela Polícia Federal como integrantes de organização criminosa (Lei 12.850/2013) e de corromperem ou facilitarem a corrupção de menores de 18 anos (artigo 244-B do estatuto da Criança e do Adolescente). Entre os suspeitos há um adolescente cujo processo corre na Justiça da Infância e Adolescência de Goiás. Outro menor que apareceu também nas redes sociais, chegou a ser envolvido mas acabou merecendo o tratamento de “vítima”.

O indiciamento ocorreu com base exclusivamente em postagens em redes sociais, como Face book e Telegram, algumas bem anteriores à promulgação da lei antiterrorismo (Lei 13.260, de março passado). Por isso, o indiciamento pela lei de organização criminosa. As mensagens do Telegram, por sinal, chegaram à Polícia Federal através de fonte anônima, não identificada no Inquérito.

Com a deflagração da Operação Hashtag, a Polícia Federal realizou buscas em 18 endereços de 13 cidades em 10 estados (São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Amazonas, Ceará, Paraíba, Mato Grosso e Goiás).

Nas apreensões nada foi encontrado que comprovasse a tese de um eminente ataque terrorista, como as autoridades tentaram passar à população. Foto diculgação

Nas apreensões nada foi encontrado que comprovasse a tese de um iminente ataque terrorista, como as autoridades tentaram passar à população. Foto divulgação

Entre o material apreendido, não  encontraram nenhuma arma, produto químico, explosivo ou qualquer objeto que concretamente indicasse a preparação de atos terroristas. Recolheram apenas mídias eletrônicas e celulares, além de bandeiras e imagens de adeptos da religião muçulmana e do próprio EI.  Agora buscam em arquivos eletrônicos provas que justifiquem o alarde feito.

Na sua decisão, o juiz Jozsegrei fala do treinamento do filho de Antonio sem saber que ele, àquela data, ainda não tinha um ano de idade.

Na sua decisão, o juiz Jozsegrei fala do treinamento do filho de Antonio sem saber que ele, àquela data, ainda não tinha um ano de idade.

Xeique inocentado – Em uma passagem da decisão que autorizou a prisão dos envolvidos, o juiz Josegrei, respaldado em um diálogo transcrito pela polícia  entre Antônio Andrade  e o xeique Ahmad al Khatib, da Associação Livro Aberto, de Guarulhos (SP), alertou para o fato de o suspeito – hoje um dos presos – admitir que já treinava o filho, sem oposição da mãe, para torná-lo um “daesh’ (integrante do Estado Islâmico).

Evidentemente que o juiz considerou tal situação grave, como mostra seu despacho na ilustração ao lado. Talvez sua reação fosse outra caso a polícia lhe informasse – como consta de um documento só anexado aos autos bem depois (veja ilustração no início da reportagem) – que a criança nasceu em setembro de 2015. Tinha quatro meses na época da troca de correspondência, pouco mais de dez meses quando o pai foi preso em 21 de julho e hoje está com um ano. Ainda assim levaram a sério uma conversa que mais parece piada.

Sem falar que o juiz, com base nos relatórios da Polícia Federal, alegou que o xeique Ahmad Al Khatib, utilizava-se de uma ONG “que possui, externamente, uma finalidade nobre, para propagar o ideal terrorista”. Foi mais uma tese “vendida” pela Polícia Federal que não ficou comprovada. Tanto assim que o xeique sequer foi indiciado no inquérito. Ou seja, criaram alarde, queimaram a reputação de um cidadão através de jornais e TVs e nada conseguiram provar até agora.

Homo-afetividade omitida – Outra omissão da polícia diz respeito a um dos suspeitos presos que há oito anos vive maritalmente com um companheiro. Uma relação registrada em cartório como União Estável há cinco anos. Ao ser ouvido na penitenciária – sem a presença de advogado ou defensor, o que fere a Constituição – o suspeito deixou claro sua relação com um companheiro. Nem precisava. A polícia sabia, tanto que foi buscá-lo na casa que divide com o parceiro. No depoimento, ele defendeu seu ponto de vista com uma visão tolerante do islamismo em relação à sua opção sexual. Falou algo como o fato de o profeta Mohammed ter compaixão com todos. E até possuir, na família das suas esposas, pessoas sodomitas, homossexuais. Segundo disse, “o profeta Mohammed era sem radicalidade”.

Mas isto não foi consignado no interrogatório. Sua condição homo-afetiva só apareceu em um novo depoimento no final de agosto, na presença dos Defensores Públicos das União  Rita Cristina de Oliveira e Silvio Rogério Grotto. Aliás, isto é mais um motivo de preocupação da defensora pois ela acredita que seu assistido poderá sofrer fortes humilhações futuramente:

A defensora pública, Rita Cristina preocupada com a segregação social  dos suspeitos de terroristas. Foto Marcelo Auler

A defensora pública, Rita Cristina preocupada com a segregação social dos suspeitos de terroristas. Foto Marcelo Auler

“O meu cuidado é em relação à segurança dele, porque a gente não sabe o que pode acontecer. Eu acredito, sinceramente, que verdadeiros terroristas não estão  entre essas pessoas e a polícia simplesmente focou neles para dar alguma espécie de satisfação internacional. Também para servir como alguma espécie de exemplo. Mas tenho medo. Imagina só, ele é preso, taxado de terrorista, de professar a religião islâmica, ainda que no pensamento dele tenha dado uma interpretação diferente, que eu não conheço para  dizer se aceitam ou não homossexuais. Amanhã ou depois ele sai taxado de terrorista homossexual. Imagina o que ele pode sofrer aqui fora? A gente sabe que existem pessoas intolerantes”.

Tal preocupação encaixa-se com o que aqui já foi dito na reportagem: Suspeitos de “terrorismo” mantidos presos e isolados já são segregados: nova Escola Base?.

correspondência do FBI devidamente traduzida.

correspondência do FBI devidamente traduzida.

Contato com facções criminosas – A citação à “satisfação internacional” decorre do fato de a Operação ter começado com um documento encaminhado pelo FBI à Polícia Federal, apontando nomes de brasileiros que “usam suas contas em mídias sociais para expressarem apoio ao Estado Islâmico do Iraque e o Levante”. O documento, de maio, falava que “estas pessoas possam representar uma ameaça à segurança nacional e aos Jogos Olímpicos 2016 no Rio de Janeiro”.

Uma outra preocupação atormenta os defensores públicos. Ao serem mantidos na penitenciária federal de segurança máxima de Campo Grande (MT), criada exatamente para isolar criminosos considerados perigosos, entre os quais líderes de facções criminosas como o PCC, estes supostos terroristas, que demonstram muito mais serem falastrões e sem qualquer espécie de organização, acabaram se tornando presas fáceis.

A decisão de mantê-los isolados foi tomada a pedido da Polícia Federal. Não se pode desprezar a possibilidade da influência do ministro da Justiça, Alexandre Moraes, que tão logo foi deflagrada a operação tratou de tirar proveito da mesma concedendo entrevistas e até revelando fatos do inquérito que estava em sigilo. Passou por cima, inclusive, da decisão do juiz Josegrei, que determinara uma operação em segredo.

Não raro, o que Moraes disse não se confirmou. Citou, por exemplo, como líder um jovem do Paraná, quando na própria decisão do magistrado outras duas pessoas eram apontadas como possíveis líderes.

É verdade que o isolamento desses presos contou com o apoio do procurador da República de Curitiba, Rafael Brum Miron, teve o aval do juiz Josegrei, foi mantido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região  (TRF-4) e até mesmo pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao recusar analisar um pedido da Defensoria da União como narramos em Defensora recorre ao Supremo contra isolamento dos “terroristas tupiniquins”.

Também contribuiu para isso a não realização pelo juízo de Curitiba da audiência de apresentação, que o próprio STF, recentemente, determinou que seja feita logo após a realizações de prisões. Os requerimentos da defensoria pública neste sentido não foram atendidos.

Ao saber que chefes da facção criminosa de São Paulo começaram a procurar os presos neste inquérito, o defensor público Grotto, lotado em Campo Grande, oficiou à direção do presidio pedindo medidas cautelares para evitar a aproximação indevida. Sua colega, Rita Cristina explica a preocupação dos dois:

A ausência de critérios e filtros além de devastar a vida dessas pessoas e suas famílias, cria precedentes sérios em termos de segurança nacional. Qualquer estudioso sério da questão do terrorismo e do Estado Islâmico sabe que o tratamento disso como mera questão de Lei e Ordem, sem uma apreciação política, ao invés de coibir ações nesse sentido, reforça o espaço ideológico do terrorismo, que tem sido utilizado pelo EI muito mais do que ações de guerra. A grande vitória do EI tem sido espalhar o terror mundialmente. Uma guerra ideológica. E uma ação como esta coloca o Brasil neste contexto, mostrando a vulnerabilidade de jovens brasileiros a esta guerra ideológica. Ouso dizer que uma ação como esta acaba atraindo a atenção para um espaço a ser trabalhado e, agora sim, com uma assistência profissional que não foi descoberta nesta operação“.

Premonição do jovem – Tudo o que apareceu no Inquérito e que teve ampla divulgação por parte da Polícia Federal – o que se encaixa na proposta de criar pânico para justificar a adoção do Estado Policial – mostra, na verdade, um grupo de pessoas relativamente jovens, despreparadas e um tanto quanto tresloucadas. Entre os indiciados, três têm idade de até 21 anos, sete, entre 22 e 30 anos, três estão entre 31 e 40 anos e apenas um com mais de 41 anos.

alisson e a ameaça de contaminar a águaUm exemplo claro é o do rapaz Alisson, morador em Saquarema, cidade da Região dos Lagos . no litoral norte fluminense. Segundo a Polícia Federal fez questão de mostrar na TV Globo, logo após o juiz suspender o sigilo do  inquérito, ele falou no Face Book em contaminar uma estação de abastecimento d’água do Rio de Janeiro durante as Olimpíadas.

No vazamento, a Polícia Federal apresentou à TV Globo o depoimento  que Alisson prestou logo ao ser preso, na Penitenciária, sem a presença de um advogado. O vídeo destes depoimentos é a unica peça do Inquérito mantida em sigilo pelo juiz Josegrei. Já a transcrição dos termos prestados não tinham sido encontradas no Inquérito por este Blog, que recebeu senha judicial para acessar todo o conteúdo disponível,. Mas acabou sendo localizado nesta terça-feira, dia 13/09.

(**) Peço desculpas aos leitores, aos investigadores e ao juízo pelo erro de informação. Não havia reparado, mas nesta terça-feira (13/09) encontrei no Evento 38, de 26 de julho de 20916 os Termos de declarações prestados no presidio Federal ou em outras delegacias, após a prisão dos suspeitos, entre os dias 21 e 25 de julho, incluindo o depoimento de Alisson apresentado à TV Globo. 

No depoimento, segundo a imagem da TV Globo, “Alisson disse que defende a morte de homossexuais” e “concorda com todos os ataques do Estado Islâmico realizados em países que atacam os direitos dos Muçulmanos”. A TV Globo, ainda com base nas notícias repassadas pela Polícia Federal, diz que Leonid, outro preso, “planejava o treinamento do grupo com armas, e que buscava formas de financiar essas atividades”.

Alisson, não passa de um jovem de 19 anos, que cursou até o segundo grau e está desempregado. Mora em uma cidade praiana da região dos Lagos Fluminenses. No seu segundo depoimento, negou tudo o que tinha dito anteriormente. Como o primeiro depoimento não teve a presença de defensores ou advogados, sua legalidade terá que ser discutida em juízo.

Em mensagem apossivel vendedor de arma, Alisson questiona sobre a compra de um fuzil. Para a PF ele foi inspirado em um atentado terrorista que só ocorreu dois meses depois. Premunição?

Em mensagem a um possível vendedor de arma, Alisson questiona, em 13 de maio de 2015, sobre a compra de um fuzil. Para a PF ele foi inspirado em um atentado terrorista que só ocorreu em junho seguinte, na Tunísia. Premonição?

Ao apresentar a mensagem em Telegram que Alisson teria passado  – a qual, como dissemos acima, foi enviada à Polícia Federal por informante anônimo, uma vez que este tipo de mensagens digitais não são rastreadas – o relatório policial não identifica a data. Mas, o curioso é que nas buscas e apreensões, nada foi encontrado, com nenhum dos suspeitos, em termos de produtos químicos que demonstrasse que a ideia de contaminar a água seria executada.

Na casa de Alisson, por exemplo, entre o material apreendido o que chamou a atenção foi a grande quantidade de eletrônicos: três aparelhos celulares, nove HDs externos, um HD do computador, três pendrives, um lenço preto, um caderno onde estava escrito “God of war ascension”  (nome de um videogame, em livre tradução “Deus da guerra da ascensão”).

Uma troca de e-mails entre ele e um possível vendedor de armas não identificado nos relatórios da Polícia Federal, o rapaz questiona sobre a compra de um fuzil AK-47. Mandou a mensagem dia 13 de maio de 2015 e recebeu a resposta no mesmo dia (como se constata na imagem acima).

Apesar dessas datas estarem estampadas nas mensagens, a Polícia Federal alega que  “é possível afirmar que é razoável que Alisson, morador do Estado do Rio de Janeiro tenha se inspirado no atentado  da cidade litorânea de Sousse, na Tunísia, em junho /2015, (grifei) ocasião em que um atirador ativo assassinou 37 (trinta e sete ) pessoas na praia de um hotel de luxo, fazendo uso de um fuzil igual ao solicitado poe Alisson. Tal ataque foi reivindicado pelo EI”.

Ou seja, pela análise da polícia Federal, em maio, em uma premonição, Alisson se inspirou em um ataque que só aconteceria no mês seguinte para consultar sobre a compra de um fuzil que a própria polícia diz não ter confirmado a compra.

Campo de treinamento – Tal como Alisson, o preso Leonid – um dos três do grupo que já teve passagem pela polícia com condenação e cumprimento de pena – também é apontado pela Polícia Federal e pelo próprio juiz Josegrei como possíveis lideranças da tal célula do EI no Brasil. São, sem dúvida, dois dos que fizeram as postagens mais radicais nas mídias sociais. Leonid, inclusive, fez a proposta de criarem um grupo que deveria treinar com armamentos pesados e leves, “para a guerra contra os infiéis, seja no exterior ou no Brasil”, segundo o relatório do delegado Guilherme Torres, da Divisão Antiterrorismo, da Diretoria de Inteligência Policial (DAT/DIP/DPF) Diz a postagem:

1- Nos preparar física, intelectual e espiritualmente para o combate. Trocaremos conhecimentos  entre nós, assim o mais versado no conhecimento passará seu saber aos demais, seja sobre o Din ou Língua Árabe, alinharemos nossas intenções em empreender a Jihad fi-sabilillah, treinaremos artes marciais e manuseio de armas de pequeno e médio porte, assim como artilharia pesada. Formando assim combatentes preparados, o que facilitará e economizará tempo e gastos para o Dawlat, pois já chegaremos com uma boa formação.

2- Levantar fundos para o financiamento de envio de recursos (em dinheiro) e reforços (em pessoas) para o Dawlat. 

3- Não sabemos o que pode acontecer aqui no Brasil, que hoje ainda está “Neutro” em relação ao Dawlat, amanhã ou depois podem se aliar contra e então estaremos preparados, inshallah. Além do que, há muitos rumores sobre guerra civil, golpe militar e etc, se estivermos juntos e isso acontecer poderemos tomar proveito da situação em nosso benefício”.

À convocação responderam apenas seis pessoas, incluindo o irmão de criação de Leonid. A mãe dele, advogada Zaine Kadri, que atua na defesa dos dois filhos, garante que tudo “foi uma brincadeira fora do grupo e desses acusados”. Não é o que parece. Mas ela apresenta ainda outro argumento. Segundo conta, com a ajuda do FBI, a Polícia Federal vasculhou toda a área de fronteiras do Brasil, principalmente no Mato Grosso, sem localizar o tal campo de adestramento.

O fatio é que no grupo há postagens que podem realmente ser consideradas radicais e merecem uma investigação detalhada, que não se encerra rapidamente. Discutível pode ser a forma como estas investigações estão sendo feitas, sem critérios, provavelmente misturando joio com o trigo. Parece evidente também, após todas as buscas realizadas, que a polícia terá dificuldades em provar a tese de que um atentado estava sendo preparado para os Jogos Olímpicos ou mesmo Paraolímpicos.

Houve muito alarde, em uma nítida tentativa de criar pânico e justificar medidas mais repressivas, típicas do estado totalitário, policialesco, em um sentido mais amplo, que envolve não apenas a polícia, mas o ministério público, o judiciário e, principalmente, o Executivo, maior interessado nestas atitudes.

Quanto à necessidade de prisões, o juiz Josegrei costuma explicar que “não poderia se omitir diante da gravidade dos planos do grupo, nem subestimar o perigo que eles representavam. Não dava para esperar para ver se iria acontecer [um atentado]”, explicou na reportagem publicada na Folha de S. Paulo – Grupo simpatizante ao terrorismo cogitou usar arma química nos Jogos do Rio.

Colaborador da PF entre os presos – Algo parecido ele nos disse em agosto, pouco depois das prisões. Como narramos na reportagem Defensora recorre ao Supremo contra isolamento dos “terroristas tupiniquins”, na entrevista que nos concedeu quando preparávamos a matéria publicada em CartaCapital – “Terror ou Terrir?” – ele foi claro ao apontar a condição dos doze (que com novas prisões chegaram a quinze) apenas como suspeitos, longe de serem tratados como terroristas, como se já estivessem condenados. Não foi a mesma visão da Polícia Federal e do MPF:

Marcos Josegrei da Silva 14a. vara federal curitiba

O juiz Josegrei acabou esticando as prisões temporárias dos suspeitos, mas agora cobra agilidade da polícia Federal. Foto Reprodução.

Não estou prejulgando ninguém. Foi concedida a prisão temporária para facilitar a investigação com base nas suspeitas. Com o avançar das investigações e a análise do material apreendido, vou ter um panorama melhor se realmente havia risco. Se são um perigo para a sociedade, se podem retornar às suas vidas ou devem retornar com restrições (tornozeleiras?). Espero em 30 dias tudo esclarecido”, adiantou.

Vencido os 30 dias, ele renovou as prisões temporárias, alegando excesso de material a ser analisado. Não fez, como reclama a defensora pública Rita Cristina, nenhum filtro nem uma seleção criteriosa. Com isso, continua preso, por exemplo, Marcos Mario que mantinha um site sobre o Islamismo e foi procurado na época da Copa do Mundo por policiais federais. Como ele mesmo alegou, ao ser alertado que poderia estar pregando o terrorismo, suspendeu a publicação e passou a colaborar com os investigadores de então. Agora tornou-se suspeito, continua preso há quase dois meses e viu, com as buscas e apreensões feitas na firma onde trabalhava, sua antiga patroa sofrer um baque nos negócios. Pode perder o emprego não por desconfiança da patroa – que o conhece e duvida de tudo o que dizem dele – mas pela redução do nível de negócios na venda de quentinhas.

Provavelmente atento a estas situações foi que o magistrado recusou o pedido de prazo justificado com o alegando acúmulo de material a ser analisado, feito pelo chefe da Divisão de Perícias Instituto Nacional de Criminalística (INC) do DPF, o perito criminal Mauro Mendonça Magliano. Recusou e repreendeu-os: :

É evidente que o pedido não pode ser atendido. A maior parte dos materiais apreendidos que demandam a emissão de laudo pericial o foi no último dia 21/7. Portanto, já se passaram quase 40 dias e a quantidade de laudos emitidos até agora é incompatível com o tempo decorrido, com a natureza dos crimes investigados, com a prioridade que as perícias envolvendo este caso deveriam ter no âmbito do Instituto Nacional de Criminalística e com o status libertatis de que gozam 15 dos investigados no momento.

Portanto, considerando-se o ritmo lento com que vêm sendo desenvolvidos os trabalhos periciais e a projeção apresentada pelo Sr. Chefe da Divisão de Perícias do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, bem como o termo final das prisões temporárias da maior parte dos investigados (18/9/2016) e a necessidade de, o mais rapidamente possível, se delinear a existência, ou não, de indícios de materialidade e autoria delitivas envolvendo cada investigado, estabeleço como prazo final improrrogável para apresentação dos laudos periciais o dia 16/9/2016, sob as penas da legislação penal e administrativa incidentes na hipótese de descumprimento”.

Logo depois, a pedido do Ministério Público Federal, o juiz refez a decisão e estabeleceu até às “18h do dia 14/9/16 como prazo final para anexação aos autos das perícias envolvendo os aparelhos de telefonia celular e smartphones apreendidos em todas as fases da investigação deflagradas até agora“. Pede ainda um cronograma sobre o que falta ser feito e que a perícia estipule os prazos de entrega.

Promoção ou apologia? – A próxima fase do inquérito, ou do processo, caso o procurador da República apresente uma denúncia formal contra todos ou alguns dos envolvidos, será a discussão terminológica do que diz a Lei antiterrorismo editada por Dilma Rousseff, em março passado.

Nos seus relatórios, a Polícia Federal buscou explicações nos dicionários para justificar os indiciamentos. Alega ser possível concluir “com base nas informações obtidas até o presente momento, que há indícios de que brasileiros têm utilizado plataformas de redes sociais como face book, Instagram, twitter entre outras, para difusão de material com objetivo de promover a atuação da organização terrorista Estado Islâmico”. Cita então o artigo 3º da Lei 13.260/16 que prevê como crime “promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista: Pena – reclusão, de cinco a oito anos, e multa”.

tazões do veto.

Ao promulgar a Lei antiterrorismo, em março, a presidente Dilma Rousseff vetou o artigo que criminalizava a apologia ou o incitamento de fatos tipificados como crime, por considerar um conceito amplo e penas alta, ferindo o principio da proporcionalidade.

Recorrendo ao dicionário, a polícia conclui que o ”termo promover pode ter diversos significados, entre eles, segundo o Dicionário Houaiss: “ dar impulso, incentivo (material, logístico etc.) a; apoiar (algo ou a realização de algo); incentivar o aparecimento e/ou enraizamento de …; fazer propaganda de; anunciar, propagandear”.

No mesmo sentido o Dicionário Michaelis define promover como: “pro.mo.ver (lat promovere); dar impulso a; favorecer o progresso de; fomentar; trabalhar a favor de: Promover a indústria, o comércio; promover as artes, as ciências, as letras. Ser a causa de; originar: “…a promover a união, perante Deus e a lei, de casais de vida irregular” (Fernando de Azevedo). Promover
desordens; Solicitar, propondo; requerer, propor: Promover uma diligência. Promover o processo contra o réu. Elevar(-se) a (posto, emprego ou dignidade superior): (…)  Levar a efeito; realizar: Promover uma cobrança. Promover as vendas”.

A defesa, por sua vez, certamente suscitará o debate entre as palavras promover e apologia, termo que o Congresso Nacional havia incluído na nova lei, mas que a presidente Dilma Rousseff simplesmente vetou, alegando que:

“o dispositivo busca penalizar ato a partir de um conceito muito amplo e com pena alta, ferindo o princípio da proporcionalidade e gerando insegurança jurídica. Além disso, da forma como previsto, não ficam estabelecidos parâmetros precisos capazes de garantir o exercício do direito à liberdade de expressão.”

No debate jurídico caberá definir até que ponto os atuais acusados de terrorismo estão realmente promovendo-o ou apenas fazendo o que seria uma apologia, no exercício de sua liberdade de expressão Uma vez que, por falta de provas coletadas pela polícia até este momento, ficará difícil falar em preparação de atos terroristas como tem sido falado sem embasamento algum.

Observação do leitor Gilmário : Uma pequena correção(?!). De acordo com a BBC e The Independent (http://www.bbc.com/news/world-middle-east-35695648,http://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/isis-vs-islamic-state-vs-isil-vs-daesh-what-do-the-different-names-mean-9750629.html) não consta “DAWLAT” como uma das siglas para designação do chamado EI. Além de ISIS e ISIL essa “organização” também é conhecida pela sigla Árabe DAASH (Dawlat al-ʿIrāq al-ʾIslāmiyyah) ou seu anglicismo DAESH. Talvez tenha sido usado “DAWLAT” por engano, em lugar de “DAASH”.

Diante do exposto, fiz a correção e fica o agradecimento ao leitor Gilmário e ao leitor C Paoliello pela correção na palavra premonição, por cujo erro peço desculpas a todos..

Ao leitor Luiz Ricon agradeço a informação que “God of War: Ascension” é um videogame…

24 Comentários

  1. […] já no Brasil na expectativa dos Jogos Olímpicos. Como noticiamos em 12 de setembro a PF omitiu detalhes dos supostos “terroristas tupiniquins” e não tem provas de qualquer. Nas buscas e apreensões realizadas não se encontrou armas, explosivos ou qualquer indício de […]

  2. Carlos Krebs disse:

    Parabéns Marcelo,

    Muito, mas muito claro mesmo, tudo isto que foi exposto na matéria. Nosso país vive um momento triste, onde as verdades não são mais fatos, apenas factóides.
    Persista no trabalho!

    Atenciosamente,

  3. RobertoCR disse:

    Tentando postar o comentário novamente pois a conexão caiu.

    Uma contribuição para analisar este caso dos “terroristas” brasileiros.

    Em um canal do YouTube (Fábrica de Noobs) um garoto de 17 anos traz mais informações relacionadas a este caso. O vídeo foi postado em 24/07/2016 e procura desmistificar um usuário virtual que, a princípio, sugere estar conectado de alguma forma a denúncia. Não é um vídeo de catarse, é apenas um garoto mostrando como se utiliza ferramentas virtuais ou softwares quando se quer achar alguém, ou algo, na internet. O nome do vídeo é “Desmistificando: a1035”.

    a1035 é o nome da página que levava a um cronômetro em contagem regressiva que, na época, apontava para o início da Olimpíada do Rio como ponto “0” (zero) do cronômetro. Ao fim do vídeo o garoto afirma que, depois deste ponto (a investigação preliminar e informal que ele produziu), é necessário conferir o que fará a PF, coisa que o Marcelo Auler tem nos apresentado de forma bem esclarecedor.

    Vale a pena. Segue o link.
    https://www.youtube.com/watch?v=yJpAK9MCB0I

    Abs

  4. João de Paiva disse:

    Prezado Jornalista Marcelo Auler, prezados leitores.

    É realmente una satisfação poder ler reportagens feitas por um Jornalista de verdade, com “J” maiúsculo. Essa satisfação é ainda maior pelo fato de poder participar e debater com outros leitores bem formados, bem informados e que demonstram seriedade, ética, correção e integridade, pelos comentários colaborativos que postam aqui, apontando eventuais erros e incorreções contidos na primeira edição da reportagem, conseqüência direta do trabalho solitário do repórter; o tempo trabalha contra o jornalista e se este se põe a realizar reportagem que constitua “furo”, a pressão é ainda maior, o que implica em mais erros e imprecisões. Apesar disso, os erros constatados, apontados por leitores, admitidos e corrigidos pelo repórter, não tiram a qualidade da reportagem nem o mérito do profissional que a elaborou. Ao repórter e aos leitores-colaboradores meu agradecimento e parabéns.

  5. Will disse:

    Coitado desses rapazes, dá pra se perceber que fizeram uma brincadeira! Mas o pior é ter uma PF sem preparo algum, plantando provas e arrancando dos rapazes sob a condição de presos, a maior tortura de suas vidas, a de reprimir em pseudos depoimentos o que eles querem ouvir para usa e punir uma turma de jovens despreparados. Gostaria de dizer para a turma presa, que processem o estado e os que os prenderam de forma arbitrária. Onde sonegaram ao juiz informações que levariam a PF ao ridículo, ao nojo em termos de investigações, onde eles plantam e difamam os acusados com um único apelo, os de que nada do que produzem é errado. É isso uma palhaçada sem precedentes na história da PF, por conta de um ministro louco e sem nenhum senso de responsabilidades de suas atribuições. Se eu fosse o juiz a julgar isso tudo, estaria morto de vergonha e olharia para o espelho como sendo a madrasta da branca de neve,, pois mesmo vendo a trama diabólica, ainda escutou os informantes despreparados, onde deveria ouvir a Defensoria publica de cada envolvido. Olha só a palhaçada que vai julgar! Terrorismo tupiniquim é uma farsa da PF e do ministro da justiça(injustiça) do Brasil.

  6. Rogério Maestri disse:

    Caro Marcelo, as transcrições apresentadas pela Polícia Federal, como as seguintes:
    .
    “hoje um dos presos – admitir que já treinava o filho, sem oposição da mãe, para torná-lo um “daesh’ (integrante do Estado Islâmico).”
    .
    Pois jamais um integrante do Daesh utilizaria este nome, por um simples motivo, a palavra Daesh em árabe se confunde com em árabe, com “Daes”, que significa “aquele que esmaga algo” ou “Dahes” que pode ser traduzido como “aquele que semeia a desordem”.
    E os militantes do Daesh consideram esta sigla altamente ofensiva, inclusive segundo o jornal britânico Mirror, citando o canal de TV norte-americano NBC, militantes do grupo terrorista ameaçaram “cortar as línguas de cada um que pronuncie a palavra Daesh.
    Eu fico abismado da ignorância dos membros dos nossos sistemas de “inteligência”, a do exército, com o caso do “espião infiltrado” que botou a sua foto num site de paquera e com a polícia federal que não tem a mínima noção de organizações terroristas.
    Se dependêssemos destes sistemas para nos proteger de ameaças terroristas estávamos ralados.
    Estes sistemas acham que um militar qualquer saído do setor de concorrências do exército e um delegadinho com o curso de bacharel em ciências jurídicas podem atuar em coisas tão complexas como infiltrar agentes sem serem descobertos por um bando de rapazes, ou ter alguma noção do que seja o Daesh.
    Posso dizer sem medo de errar, são um monte de pobre-coitados.

  7. SILVIO MIGUEL GOMES disse:

    DO LIVRO AFUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO, de Romero Costa Machado, Auditor que trabalhou 10 anos na Globo. Páginas 212, 213 e 214.

    Só de contingência fiscal o BONI deve, pelos cinco últimos anos, por baixo, ao imposto de renda, a bagatela de cerca de 10 milhões de dólares.
    OBS: no caso de haver dolo, fraude ou simulação, é imprescritível, a contingência vai prum valor incalculável.
    REUNIÃO COM BONI:
    “E aí, Machado, tudo negro?.
    OBS.: foi esclarecido ao BONI que ele estava envolvido em venda de NOTAS FRIAS pra Fundação Roberto Marinho, para diretores e organizações da casa. A EMPRESA DE BONI ERA ‘JOB”.
    – (Romero diz) Você está envolvido com falsificação e autenticação de guias frias.
    – Boni responde: Eu estou merda nenhuma. Quem está é o Afranio. (grosseiro tentando intimidar). FOI esclarecido que ele era dono da JOB até 1982. Foi esclarecido a BONI que não havia como ele se safar.
    BONI parou, pensou. Olhou pra mim. Olhou para o relatório. – Quais são os riscos que eu corro?
    – São dois: imposto de renda e Polícia Federal. Pode ter os bens sequestrados. Dólares no exterior estão a salvo. Pode ter prisão decretada.
    – BONI : há como resolver isso por baixo?
    – Não! – respondi.

    BONI decide: É QUE POR CIMA A COISA COMPLICA. VAMOS QUE FAZER UM NOVO DELEGADO DA RECEITA PARA ACERTAR ISTO. E isto vai dar trabalho e deixar o rabo de fora. – Raciocinou em voz alta.

    • SILVIO MIGUEL GOMES disse:

      FINAL É ESSE:
      BONI decide: É QUE POR CIMA A COISA COMPLICA. VAMOS QUE FAZER UM NOVO DELEGADO DA RECEITA PARA ACERTAR ISTO. E isto vai dar trabalho e deixar o rabo de fora. JÁ QUANTO A POLÍCIA FEDERAL É TRANQUILO: ENTRA TUDO NO PACOTE DA GLOBO. A TURMA DE CIMA JÁ ESTÁ FEITA – Raciocinou em voz alta.

  8. Dilma Coelho disse:

    Esta é uma velha história mas pode falar um pouco sobre nossa polícia e suas origens.
    Moniz Bandeira: Agências de risco estão a serviço de especuladores e de interesses econômicos e políticos dos EUA publicado em 10 de setembro de 2015 às 19:03
    http://www.viomundo.com.br/denuncias/moniz-bandeira-as-agencias-de-risco-a-servico-de-especuladores-subordinadas-aos-interesses-economicos-e-politicos-de-washington-e-de-wall-street.html
    http://www.intocaveis.com.br/558-1BrasilDoFBI.html
    Revista CARTA-CAPITAL, Edição 283, de 24/03/2004
    Esta é uma transcrição parcial:
    Clicar aqui para transcrição completa
    NO BRASIL E NO MUNDO, O FBI & Cia
    A HORA DA AUTÓPSIA
    Carlos Costa, que chefiou o FBI no Brasil por quatro anos, fala sobre ordens dos Estados Unidos para “monitorar” o País e relata: como os EUA “compraram a Polícia Federal”, o terrorismo, o atentado tramado na Tríplice Fronteira, a bomba atômica que planejavam detonar em Washington…
    POR BOB FERNANDES
    Carlos Costa tem hoje os mesmos 49 anos. Acaba de se aposentar. De 1999 ao fim de 2003, foi o poderoso chefe do FBI no Brasil. Em entrevista à Revista confessa:
    — Foi você quem executou essa ordem? Quando?
    — “Como você ainda verá na nossa conversa daqui por diante, me recusei a cumprir ordens bem menos graves do que essa. Boa noite”!
    — Houve uma determinação de Washington para que eu “monitorasse” todas as mesquitas, xeques, aiatolás e líderes da comunidade muçulmana no Brasil e fizesse “listas”. Recusei-me, há ocasiões em que uma pessoa deve se recusar a cumprir ordens inconstitucionais.
    Carlos Costa é um agente secreto com amplíssima e eclética formação. Na Flórida, na Southeast University, fez um MBA em Gerenciamento de Empresas, com Especialização em Gestão de Negócios Internacionais. Em Washington, DC, no Foreign Service Institute (FSI), especializou-se em assuntos econômicos e sociais de países latino-americanos. Formado em Ciências Políticas e Relações Exteriores pela University of Rhode Island, Carlos Costa entrou no FBI em 1982, numa disputa com 56 mil candidatos por vaga.
    No Federal Bureau of Investigation (FBI), como agente especial, serviu nos escritórios de Boston, Pittsburgh e Miami. Na sede do FBI, em Washington, foi também chefe de seção de Contra-Inteligência e Espionagem Industrial Internacional.
    Carta Capital: Você chefiou o FBI no Brasil? Por quanto tempo? Carlos Alberto Costa: Chefiei o FBI no Brasil. Por quatro anos, até quase o final do ano.
    CC: Como eram, são, as relações dos serviços secretos dos Estados Unidos com as polícias do Brasil?
    CAC: Você se refere à polícia de vocês ou à comprada por nós? CC: Comprada?
    CC: Sim…
    CAC: Sim, comprada. Nossas agências doam milhões de dólares por ano para a Polícia Federal, há anos, para operações vitais. No ano passado, a DEA doou uns US$ 5 milhões, a NAS (divisão de narcóticos do Departamento de Estado), também narcóticos, uns US$ 3 milhões, fora todos os outros. Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal. Há um antigo ditado, e ele é real: quem paga dá as ordens, mesmo que indiretamente. A verdade é esta: a vossa Polícia Federal é nossa, trabalha para nós. Os vossos governos parecem não dar importância à Polícia. Não sei se é herança da ditadura, quando a Polícia era malvista, mas isso é incompreensível. A Polícia, que deve ser uma entidade independente da política, independente de influências internas e externas, está, na prática, em mãos de estrangeiros.
    CC: Isso se refere a todas as agências americanas que trabalham aqui?
    CAC: A CIA é outra história… A CIA tem a função legal de um Serviço de Inteligência que atua no estrangeiro.

    • João de Paiva disse:

      Cara Dilma Coelho, caros demais leitores.

      Estou impressionado com o nível de conhecimento dos leitores que comentam as reportagens postadas neste blog. Alguns mostraram grande conhecimento do mundo árabe, da língua árabe, do islamismo, da geografia do Oriente Médio, dos grupos humanos, das culturas daquela região, dando contribuições e sugerindo correções a serem feitas no texto da reportagem.

      Agora você, Dilma Coelho, nos faz relembrar preciosa edição da revista CartaCapital em que é mostrado e provado de forma cabal que a PF brasileira foi comprada pelo FBI e que serve aos interesses dos EUA. Eu tenho afirmado isso há muito tempo, mas não me lembrava dessa entrevista com um agente do FBI, feita por Bob Fernandes.

      Como tenho afirmado, a Fraude a Jato é uma ORCRIM institucional, composta por policiais federais, procuradores do MP e juízes, como sérgio moro. As corporações burocráticas do Estado Brasileiro estão aliadas e alinhadas com o alto comando internacional do golpe e isso já está provado de forma irrefutável. O STF, mais do que omisso, já se mostrou conivente e partícipe do golpe de Estado. O PIG/PPV dispensa comentários. As FFAA, que ficaram quietinhas e silentes por longo tempo, se revelaram em dois episódios recentes; num deles condecorou sérgio moro com a “medalha do pacificador”, ao mesmo tempo que cassou a mesma homenagem feita anteriormente a José Genoíno e José Dirceu; o segundo episódio que mostra atuação das FFAA no golpe de Estado é a infiltração de “P2” em grupos de jovens que se preparavam para participar de manifestações contra o governo golpista.

      Agora TODOS podemos e devemos denunciar a trama golpista como sendo o que de fato é:
      – um conluio criminoso entre a burocracia estatal brasileira (PF, MP, juízes – com destaque para tipos como sérgio moro – ministros do STF, FFAA), a imprensa venal e golpista (o PIG/PPV), quadrilhas das oligarquias políticas e empresariais que dominam o Congresso Nacional. Ou seja: o golpe de Estado, que degolou a democracia e cassou o mandato da legítima presidenta, Dilma Rousseff, conquistado com 54.501.118 votos, é uma ação criminosa de natureza midiático-policial-judicial-parlamentar, como há mais de um ano tenho afirmado nos comentários que faço.

      • C.Poivre disse:

        Caro Paiva, sempre gostaria de fazer minhas as suas palavras pois me identifico muito com sua visão política e geopolítica. O que me provoca curiosidade, nos caso das FFAA, é que à época da ditadura militar havia uma importante parcela de militares autenticamente nacionalista que tinha no general Albuquerque Lima uma de suas maiores lideranças. Que fim terá levado esta ala nacionalista militar? Ela está fazendo muita falta diante dos planos radicalmente entreguistas dos golpistas.

  9. Dilma Coelho disse:

    A doença do desMOROnado está pegando e se somada com “tanta incompetência” estamos perdidos. Esses golpistas, imorais só aprontam.

  10. José Luiz Matheus Valle disse:

    Mais uma grande matéria de um grande jornalista.

  11. José Cloaca disse:

    A PF, o MPF e a JF no Paraná, estão sentados há meses no caso que envolve o delegado que frauda sindicâncias, junto com seus comparsas.
    Enquanto isso, o país sangra sem parar….

    Parece que temos um padrão na atuação da PF, parece, que está chegando a hora de sacrificar o cachorro louco!

    NOBRES Pa
    PARLAMENTARES, CPI DA PF JÁ!!!

  12. […] O Blog do Marcelo Auler, repórter como os nossos jornais não querem mais que os jornalistas sejam, revela, com documentos, o grau de absurdos contidos nas informações que a Polícia Federal deu à Justiça, que “justificariam” a detenção dos “célebres” terroristas da Olimpíada. […]

  13. Armando COELHO NETO disse:

    Sr. Jornalista. Em que pese o rico texto, continuo achando muito teneroso fazer marketing poltico sob o mote de terrorismo. Tudo que li é de um amadorismo tao grande, quanto adolescentes brincando de fazer bomba na deep web.

  14. Gilmário disse:

    Uma pequena correção(?!). De acordo com a BBC e The Independent (http://www.bbc.com/news/world-middle-east-35695648, http://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/isis-vs-islamic-state-vs-isil-vs-daesh-what-do-the-different-names-mean-9750629.html) não consta “DAWLAT” como uma das siglas para designação do chamado EI. Além de ISIS e ISIL essa “organização” também é conhecida pela sigla Árabe DAASH (Dawlat al-ʿIrāq al-ʾIslāmiyyah) ou seu anglicismo DAESH. Talvez tenha sido usado “DAWLAT” por engano, em lugar de “DAASH”.

    • Marcelo Auler disse:

      Obrigado, fiz a correção e registrei meu agradecimento em publico ao seu alerta.

      • Túlio Santos disse:

        Prezados,

        No caso, palavra DAWLAT em árabe significa apenas “Estado”, e a palavra é assim também usada em referência ao território da sigla DAESH, que significa DAWLAT al ISLAMYA fi ERAQ ua SHAMS, ou em português “Estado Islâmico no Iraque e Síria” (em inglês Islamic State in Iraq and Syria, ou ISIS).

        Do árabe: داعش :

        د = Dawlat (Estado, Nação)
        ا = (al-) Islāmiyya
        ع= (fī’l-) ‘Erāq
        ش = (wa’s-) Shāms (o Sol, um dos nomes para a parte do Levante que é a Grande Síria)

  15. C.Paoliello disse:

    Excelente reportagem, embora mais pareça uma piada.

    PS – Sugiro a correção do vocábulo premunição para premonição, a não ser que seja um jogo de palavras.

  16. Luiz disse:

    “God of War: Ascension” é um videogame… vale citar na matéria, para mostrar ainda mais a inépcia dessa investigação patética
    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/b/ba/God_of_War_Ascension.jpg

    • Alan Souza disse:

      Pensei nisso na hora que li, ser apreendido um caderno com capa de um videogame como prova criminal. Se derem uma batida na minha casa tô ferrado, meu tapete na porta de casa diz “welcome to the dark side”, com a figura do Darth Vader. Vou ser acusado de feitiçaria, no mínimo…

  17. João de Paiva disse:

    Prezados leitores,

    Fico imaginando o que os tiras do FBI hão de pensar desses pitbulls, desses trogloditas nazifascistas, como alexandre de moraes. O FBI municiou a PF com informações sobres os brasileiros supostamente integrantes de uma “célula terrorista”, o que é muito grave, mostrando que a bisbilhotagem da espionagem estadunidense atinge TODOS os meios de comunicação em nosso País, o que já ficara provado desde as espionagens feitas pela NSA em 2013, quando roubou informações da Petrobrás e grampeou autoridades, inclusive os gabinetes da presidência da república. Não há mais qualquer dúvida sobre a participação dos EUA no alto comando do golpe de Estado e na instalação de um Estado de Exceção o Brasil. O que a espionagem e inteligência dos EUA provavelmente não esperavam é que um bando de trapalhões brutos, primitivos, incompetentes estariam à frente da PF brasileira, que eles cooptaram e vêm financiando há algum tempo, assim como fazem com o sérgio moro.

    Nos últimos dias houve foi desbaratada uma operação tabajara, revelando um “P2” infiltrado entre um grupo de jovens que marcava um encontro, para participar das manifestações contra o governo golpista. O agente infiltrado – que usava o nome falso de “Baltazar Nunes” – é Willian Pina Botelho, capitão do Exército.

    Com mais essa reportagem demolidora, que expõe a torpeza das ações ilegais e criminosas da PF, omitindo e manipulando informações, induzindo um juiz a grave erro – ao manter encarcerado um grupo de pessoas contra as quais a PF não conseguiu levantar provas suficientes de que tenham participado de ações criminosas de tentativa de promover atos terroristas – Marcelo Auler pode sofre novas perseguições e ações judiciais. Mas esteja certo o repórter de que pode contar com a colaboração dos leitores, para continuar a prestar esse serviço público de inestimável valor.

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