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Arnaldo César  (*)

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil.

O sorriso de outrora já deve estar difícil no rosto de Sérgio Moro, que vê-se diante de uma encruzilhada. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil.

A vida não tem sorrido para o juiz Sérgio Moro. Seus padrinhos andam nervosos e passaram a lhe pressionar muito, nos últimos dias. Especialmente, depois que a segunda delação do empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, contra Lula se revelou pífia em termos de provas concretas. Até agora, não conseguiram provar, de maneira inquestionável, que o ex-presidente seria o dono de um tríplex na praia do Guarujá e que teria recebido uns capilés para reformar a cozinha de um sítio em Atibaia. Ambas as propriedades localizadas no Estado de São Paulo.

A palavra do delator (condenado a 26 anos de prisão e desesperado para receber o benefício da redução de pena) não convenceu a opinião pública. As provas por ele apresentadas muito menos. Carros do Instituto Lula passando por pedágios nas proximidades do Guarujá e anotações na própria agenda de Pinheiro de pretensos encontros com Lula e seus familiares provocam gargalhadas de tão ridículos que são.

Trancafiar o líder que aparece nas pesquisas de opinião para a campanha presidencial 2018 com mais de 40% de intenção de votos sem mais e nem menos pode enfurecer dezenas de milhares de pessoas que pretendem rumar para Curitiba, no próximo dia 3 de maio, em solidariedade a Lula.

Estranhamente, o superintendente regional da Polícia Federal, Rosalvo Franco e o secretário Estadual de Segurança do Paraná, Wagner Mesquita de Oliveira, alegam que está muito em cima da hora para providenciarem esquemas especiais de seguranças que evitem qualquer tipo de tumultuo. Como é de praxe na chamada “República de Curitiba” criou-se mais uma ilação com a intenção de contornar uma encrenca.

Há um mês, policiais militares do Paraná estiveram na sede do DPF em Curitiba treinando agentes em conflitos urbanos. Mas a PF diz que não está preparada. Espera uma guerra?

Há um mês, policiais militares do Paraná estiveram na sede do DPF em Curitiba treinando agentes em conflitos urbanos. Mas a PF diz que não está preparada. Espera uma guerra?

O curioso é que há um mês a Polícia Militar e seus homens especializados em conflitos urbanos estiveram na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, por uma semana, dando treinamento aos agentes federais que ficarão encarregados do policiamento em torno do prédio da Justiça Federal, quando do depoimento de Lula. Sem falar que todos os moradores da região passaram por um cadastramento para que ser reduza a circulação de veículos.Isso não teria sido suficiente? Ou estão querendo se preparar para guerra?

Até mesmo os mendigos que saracoteiam pela Rua das Flores (antiga rua XV), no Centro da capital paranaense sabiam, com três meses de antecedência, que o juiz Moro pretende arguir Lula, no dia 3 de maio vindouro. Só as autoridades policiais daquele Estado parecem desconhecer o fato. Se tivessem se dado ao trabalho de bisbilhotar o Facebook, teriam descoberto também que milhares de caravanas estão se organizando País afora para rumarem em direção a Curitiba. Aliás, em 13 de abril quando esse blog publicou Curitiba, 03/05: confronto à vista, autoridades da área da segurança do Paraná foram ouvidas e alegaram que “é prematuro adiantar qualquer coisa. “Mais para perto do evento vamos avaliar o panorama. Por enquanto é só preparação“. Agora, alegam que não houve tempo?

Manter ou adiar a oitiva do dia 3? Esta é a questão sob a qual o juiz terá que se definir nas próximas horas. Na picuinha criada por ele, há duas semanas, por conta das 87 testemunhas que o ex-presidente gostaria que fossem ouvidas neste processo, o juiz já admite voltar atrás: dispensa a presença de Lula em Curitiba nos dias nos quais suas testemunhas serão ouvidas, desde que a defesa do ex-presidente reduza a lista que pede a oitiva de 86 pessoas. Isto, o advogado de Lula já adiantou que não fará por ser um direito de defesa.

Os patrocinadores de Moro – leiam-se Organizações Globo – investiram muito tempo nas rádios e na televisão e muito papel e tinta em seus jornais e revista para detonar Lula e agora não podem ficar de mãos vazias. Na edição desta terça-feira (dia 25), por exemplo, franquiaram preciosa meia página em “O Globo” para o magistrado se defender do projeto de lei que tramita no Senado para combater abusos de poderes por parte de agentes públicos.

Como se sabem, mimos deste quilate não saem de graça. A “família Global” anda sequiosa pela contrapartida: o encarceramento de Lula, se possível de maneira ultrajante, escrachado.

É muito provável que ele atenda aos pedidos de adiamento. Assim, a Polícia Federal terá mais tempo para espremer testemunhas e conseguir a tão sonhada “marca de batom na cueca” contra Lula.

Na foto do Jornal A Gazeta do Povo (PR) no centro, o comerciante Ahmed Najar: disputa com militar por nota fiscal começou a confusão

Na foto do Jornal A Gazeta do Povo (PR) no centro, o comerciante Ahmed Najar: disputa com militar por nota fiscal começou a confusão

Nascido em Maringá e vivendo, atualmente, em Curitiba, Moro sabe como todo bom paranaense que seus conterrâneos não são essa candura de resignação que aparentam. Quando é preciso, costumam se enfezar como todo e qualquer brasileiro. É bom não esquecer que Curitiba registra em sua história um dos mais curiosos distúrbios populares: a “Guerra do Pente”.

A desavença entre um comerciante árabe e um subtenente do Exercito, por conta da nota fiscal de um pente, vendido por 15 cruzeiros, no início de dezembro de 1959, resultou, em um quebra-quebra generalizado que tomou conta do Centro curitibano. Durou três dias seguidos. Mais de 200 lojas foram depredadas e dezenas de pessoas ficaram feridas.

Os protestos só foram contidos depois da intervenção do Exército que impôs um toque de recolher a toda a população a partir das 20hs. Tal como relembrou o jornal paranaense A Gazeta do Povo, em 2009, quando o episódio completou 50 anos, com a reportagem Tudo por causa de um pente.

O problema é que a “Guerra do Pente” foi um episódio isolado. Encarcerar Lula sem provas concretas – a golpe de ilações – poderá se tornar uma questão de proporções nacionais.

(*) Arnaldo César é jornalista, colaborador do Blog e paranaense de Ponta Grossa.

2 Comentários

  1. Eudes Gouveia da Silva disse:

    Léo Pinheiro não prestou depoimento na condição de delator onde tem juramento post falar a verdade. Depôs na condição de co-réu onde não tem a obrigação de falar a verdade. A única utilidade do seu depoimento foi a de gerar manchetes para a Globo e CIA.

  2. ANTONIA DA CRUZ COSTA disse:

    Excelente texto.

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