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A volta do “Amigo da madrugada”: EBC renovará contrato com Adelzon Alves

Marcelo Auler

Reeditado às 14H30 a partir da nota enviada pela EBC 

 

Email da Comunicação Social da EBC anunciando a volta do "Amigo da madrugada"

Email da Comunicação Social da EBC anunciando a volta do “Amigo da madrugada”

Depois de diversos blogs – Marceu Vieira, Tijolaço, Jornal GGN – terem criticado a retirada do ar do programa “O Amigo da Madrugada”, de Adelzon Alves, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) decidiu renovar o contrato com o radialista que há 55 anos domina as madrugadas do Rio.

          Em nota oficial distribuída por e-mail, às 13H24, a comunicação social da empresa informou que “o contrato com o produtor musical e apresentador Adelzon Alves está em processo de renovação”.

Segundo a nota, a “expectativa é de que o Programa “Adelzon Alves, O Amigo da Madrugada” volte a ser exibido na próxima semana”. A nota admite ainda que contratos de outros programas também estão em processo de renovação.

A nota não explica porque a renovação não foi automática, como sempre ocorreu no caso de Adelzon Alves. Provavelmente por a atual diretoria ainda manter alguns nomes levados por Laerte Rimoli. Ao assumir, em maio passado, após o golpe do impeachment, o governo interino tentou destituir Ricardo Melo que tinha acabado de ser nomeado por Dilma Roussfeff para a presidência da Empresa. Como a lei que criou a EBC lhe garantia um mandato de dois anos, Melo recorreu ao Supremo Tribunal Federal e conseguiu reassumir sua função.

Na diretoria, porém, permanecem alguns nomes levados por Rimoli em sua meteórica passagem pela empresa. É ela que esta fazendo a revisão dos contratos. Certamente a repercussão negativa a partir da primeira notícia do caso divulgada por Marceu Vieira levou os diretores a apressarem esta avaliação. Poderia aproveitar para remunerar condignamente Adelzon pela bagagem cultural na sua área de atuação. Merece mais do que recebe.

Abaixo mantenho a postagem feita mais cedo.

EBC despreza um patrimônio cultural e demite “o amigo da madrugada

Aldezon Alves, o "Amigo da Madrugada" vítima da mesquinharia dos subalternos de Temer. Reprodução

Aldezon Alves, o “Amigo da Madrugada” vítima da mesquinharia dos subalternos de Temer. Reprodução

Recordo-me bem. Todas as madrugadas, à meia-noite e meia, logo após o noticioso “O Seu Redator Chefe”, ele entrava no ar pelas ondas da Rádio Globo como o tradicional “Boa Noite, pra quem é de boa noite! Bom dia dia, pra quem é de bom dia! Saravá, pra quem é de Saravá!” Começava ali, mais um programa de Adelzon Alves, “O Amigo da Madrugada”. Amigo de porteiros , quem chamava de “Xerife”, de motoristas de táxi, os “pilotos das madrugadas” e de todos os profissionais que trabalham nesse horário ingrato , muitos deles com o velho rádio de pilha ao lado.

Pois nesta madrugada de 22 de julho de 2016, abro o computador e descubro, na Carta a Roberto Marinho e Chatô em favor de Adelzon Alves, do incomparável cronista Marceu Vieira em seu blog, que “na segunda-feira, 25 de julho, ao meio-dia, uma roda de samba promete se formar na Rua Gomes Freire, Centro velho do Rio, em frente ao prédio da Empresa Brasileira de Comunicação – EBC, num protesto contra atitude tão mesquinha de subalternos do governo provisório de Michel Temer”.

O Conselho da empresa pública decidiu economizar R$ 5 mil e demitiu Adelzon, às vésperas de completar 77 anos, 55 dos quais à frente de microfones de rádios. A última delas, a Rádio Nacional, onde foi acolhido em 1992, após uma injusta demissão da Rádio Globo, onde esteve por 26 anos. Voltaram a cometer uma injustiça não apenas com Adelzon, mas, como descreve Marceu, com a MBB (Música Boa Brasileira). Tudo por conta de uma suposta economia de R$ 5 mil brutos, vencimento que ele recebia como Pessoa Jurídica. Isto em um país que joga bilhões de reais pelo ralo ou pela corrupção que alimenta partidos políticos.

http://www.marceloauler.com.br/wp-content/uploads/2016/07/Adelzon-Alves-enttre-Jackson-do-Pandeiro-e-Luiz-Gonzaga em um de seus programas da madrugada (Reprodução da Página www.paulobranco.com)

Adelzon Alves entre Jackson do Pandeiro e Luiz-Gonzaga em um de seus programas da madrugada (Reprodução de www.paulobranco.com)

Em 1974, quando comecei a trabalhar na Rádio Globo como estagiário, conheci o Adelzon. Afinal, meu estágio inicial era de 18H00 às 23H00 e eu fazia hora para assisti-lo no auditório do prédio da Rua do Russel 434, na Glória. Sim, ainda peguei programa de auditório em rádio. Era um auditório bem menor que os antigos, como da Rádio Nacional, que conheci em fotos. Mas, durante o programa do “Amigo da Madrugada”, estava sempre cheio. Invariavelmente com músico e sambistas famosos que iam prestigiar e serem prestigiados por Adelzon.

O papel da empresa pública – Nos dois anos que fiquei na Rádio Globo, assisti muitos programas ou, pelo menos, o início deles, pois os compromissos na manhã seguinte na própria rádio – em determinado momento eu passei a dar dois horários de trabalho para pagar a faculdade – não me permitiam ficar à noite sem dormir.

Adelzon Alves, como define Marceu Vieira em seu blog, é um  “patrimônio da radiofonia brasileira, profissional que, de modo sobrenatural, consegue reunir excelência e bondade”.

Na foto histórica, a confirmação da importância de Adelzon com a cultura brasileira.  Sentadas, ao lado do radialista Waldyr Amaral, Clara Nunes e Elizeth Cardozo. Empé, à esquerda João Nogueira e Roberto Ribeiro.À direita, Adelzon Alves. (reprodução do Blog Sulinha Cidad3)

Na foto histórica, a confirmação da importância de Adelzon com a cultura brasileira. Sentadas, ao lado do radialista Waldyr Amaral, Clara Nunes e Elizeth Cardozo. Em pé, à esquerda João Nogueira e Roberto Ribeiro. À direita, Adelzon Alves. (reprodução do Blog Sulinha Cidad3)

O mais questionável ainda é que a Rádio Nacional, que pertence a estrutura da Empresa Brasileira de Comunicação, é uma rádio pública e, como tal, deveria priorizar  a valorização da cultura brasileira.

Adelzon, e isso não é um mero chavão, faz parte da Cultura da Música Brasileira. Lançou nomes, como Clara Nunes, por quem acabou apaixonadíssimo a ponto de viver um período de depressão quando a relação dos dois terminou – e disto eu também fui testemunho.

Reproduzo aqui um trecho da reportagem O radialista Adelzon Alves, produtor de discos de Clara Nunes, homenageia a cantora em Pedra de Guaratiba, de Bernardo Costa, em dezembro de 2012, no jornal Extra, do Rio de Janeiro.

“Quem o vê passeando com os cachorros que adota pelas ruas de Pedra de Guaratiba, onde mora há 15 anos, pode não ligar o nome à pessoa. Mas aquele senhor de 73 anos, que gosta de vestir-se de forma simples e abomina o celular, é o radialista Adelzon Alves, produtor de quatro discos que alçaram Clara Nunes ao posto de uma das maiores cantoras de samba de todos os tempos”.

Adelzon é patrimônio cultural – O papel da EBC, como Arnaldo César escreveu aqui no blog em EBC: Nada com o que se espantar, é justamente o de ser “uma rede de televisão, rádio, agência de notícia e produtora de conteúdo audiovisual”, voltada para a sociedade. Como tal, deve comprometer-se em manter viva a memória da cultura brasileira. Só isso já justificaria a permanência de Adelzon no ar, sem depender das preocupações com audiência. Seu programa precisa ser encarado como cultura brasileira e não um simples entretenimento.

O texto de Marceu, uma leitura obrigatória, relembra muitos nomes que passaram pelos auditórios por onde Adelzon comandou as madrugadas. Principalmente da Rádio Globo. Eu protagonizei uma dessas visitas. Levei ao programa o Quinteto Violado, grupo nordestino que se apresentava no Rio de Janeiro. Recordo-me da satisfação dos cinco quando falei que poderia intermediar a visita. Eles adoraram. Aposto que o público ouvinte mais ainda.

Infelizmente, na segunda-feira, estarei indo para Curitiba por conta dos processos contra este Blog. Não poderei estar na roda de samba, mas acho que todos os músicos brasileiros deveriam aderir à mesma em uma belíssima forma musical de protestar, na defesa de alguém que muito fez pela nossa música.

Marceu recorre ao além pedindo por Adelzon Alves. Eu, até por não confiar em nenhum dos dois destinatários da carta dele, prefiro ficar no mundo dos vivos e clamar à nata da música popular brasileira para levantar a voz a favor desse verdadeiro patrimônio. Uma boa oportunidade é um comparecimento em peso na roda de samba do dia 25. Mas não apenas isso.

Só uma manifestação maciça, tal como ocorreu quando tentaram acabar com o Ministério da Cultura, fará esse governo interino entender o que é Cultura e que o seu papel como governo é cultivar esta Cultura, não assassiná-la em troca de míseros R$ 5 mil mensais.

Em nome da cultura brasileira, patrimônio que uma empresa de comunicação pública tem o dever de cultuar, manter Adelzon Alves no ar é fundamental. Não é um favor que farão ao mesmo, mas sim ao público brasileiro e à música popular brasileira.

6 Comentários

  1. Valmir Martins disse:

    Amigos, sou de Recife, amante do samba verdadeiro qual o horário em que Adelzon Alves vai ao ar pela EBC com seu programa de samba.

  2. Luiz Cesar mendes disse:

    Também achei revoltante a retirada de Osmar Frazao do ar. Histórias do Frazao trazia a cultura e a memória da nossa música popular. Eu não perdia o programa das manhãs de domingo. Uma perda mesmo. Não vi ninguém se manifestar pelo seu retorno. Frazao já foi até presidente da rádio Nacional. Grande conhecedor das histórias curiosas sobre a música de nossa terra. Tomara que o convoquem de novo. Obrigado.

  3. William disse:

    Não acredito na desculpa de que pessoas ligadas a Temer, misto de vice-decorativo e novela mexicana A Usurpadora, seja responsável por este e por outros cortes de programas relevantes, como a faixa infantil e adolescente das rádios (Estação Brincadeira e Zoasom) e tb o programa q discute questão de gênero e sustentabilidade, mas o cerne esta na manutenção das boquinhas por conta de cortes orçamentários, afinal são praticamente 1 cargo comissionado para cada 7 funcionários e tiveram renovação programas de pessoas com as mãos nos sacos certos e todos estes cargos existiam bem antes daquele q foi sem nunca ter sido entrar e nomear algumas pessoas e não foram muita. Se quiser saber quantas e para q funções basta olhar as portarias deste ano e comparar com o período de gestão deste ou daquele: http://www.ebc.com.br/institucional/lei-de-acesso-a-informacao/portarias-2016
    Existem mais coisas entre o céu e a terra q nossas vãs filosofias, já disse o nobre príncipe na podridão da Dinamarca.

  4. João de Paiva disse:

    Prezado Marcelo Auler, prezados leitores.

    Nestes dois meses e meio em que a quadrilha golpista ocupa o Executvo Federal já deu para perceber que os golpistas têm ojeriza à cultura e ao conhecimento; aliás, esse governo golpista tem ódio a tudo que se possa chamar de público e civilizado; basta observarmos os desqualificados que nomeou para os ministérios da Saúde e da Educação. O preposto de Eduardo Cunha, de nome Laerte Rímoli, em duas semanas que ilegalmente presidiu a EBC desmantelou a comunicação pública brasileira. Exclusão social é o mandamento número um dos golpistas; basta observar o que estão fazendo com a previdência, com os direitos trabalhistas e previdenciários, com os programas de inclusão social, de financiamento estudantil, o que estão fazendo como o programa Minha Casa Minha Vida, com o programa Mais Médicos e outros das gestões social-democratas do PT. As mulheres, os negros, os indígenas, os LGBTs e outras minorias discriminadas foram alijadas do primeiro escalão do governo golpista. A chamada ‘escola sem partido’, é na verdade a escola de partido único: o partido nazifascista, o partido reacionário, o partido golpe de Estado. Adelzon Alves foi mais uma vítima desse governo ilegítimo, corrupto, reacionário, conservador e excludente.

    Se Adelzon aceitar a renovação do contrato, deve pedir para que seja feito noutras bases, em que o radialista e produtor musical receba um vencimento digno, não os míseros 5 mil reais, que numa cidade com altíssimo custo de vida como o Rio de Janeiro, mal dá para uma família de três pessoas sobreviver. Até 2013 eu era ouvinte da Rádio Nacional e do Adelzon. Mas depois que Marco Antônio Monteiro deixou a emissora, eu a boicotei, pois Marco Antônio era o único radialista/jornalista que dava espaço para que os jornalistas independentes que mantêm blogs progressistas na internet – como Fernando Brito, do Tijolaço – pudessem falar a um grande público que nem sempre está conectado à rede mundial de computadores. É bom que Adelzon reflita sobre erros e deslizes que andou cometendo; eu me lembro que Adelzon flertou com a onda conservadora e golpista; ele ficava lendo manchetes dos jornais que compõem o PIG; Adelzon leu com naturalidade e até certa satisfação uma nota do jornal O Globo, informando que o jornalista Paulo Henrique amorim havia sido condenado, num processo que lhe movia o ‘colonista’ Merval Pereira; Adelzon leu a nota acriticamente, reproduzindo o desejo de Merval, dizendo que PHA havia perdido a primaridade e que poderia ser preso em caso de condenação posterior; hoje sabemos que a nota não corresponde à realidade e que PHA recorreu da sentença condenatória.

    A roda de samba em desagravo a Adelzon e em protesto contra a demissão dele pode ter perdido a principal razão de sua realização, mas ainda assim será ótimo que músicos do Rio de Janeiro e de outras cidades e estados, que atuam na capital fluminense, prestem homenagem ao grande radialista e produtor musical e que mandem um recado ao governo golpista que como um trator se põe a destruir a cultura, a educação, a saúde e a comunicação públicas.

  5. Dilma Coelho disse:

    PRECISAMOS TIRAR ESSE GOLPISTA, TRAIRAE PSICOPATA COM URGÊNCIA. NÃO PODEMOS DEIXAR ELE CONTINUAR DESTRUINDO O PAIS…

    DOMINGO EM TODO O BRASIL
    31/07 – 13h. LEVE SUA BANDEIRA
    PARTICIPE DA MEGA MANIFESTAÇÃO
    FORA TEMER!!! FORA TEMER!!!

  6. […] burrice ainda – e um desserviço à cultura brasileira (veja aqui o post do Marcelo Auler, com rico material sobre a trajetória de Adelzon) que uma emissora pública tem de ajudar a […]

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