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Curtas: “A bronca de Audálio Dantas no Estadão”

Marcelo Auler

Com um questionamento – Que negócio é este? – o ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas, que teve a coragem de enfrentar o governo militar quando do assassinato do jornalista Vladimir Herzog (25 de outubro de 1975) nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, bateu firme no Grupo O Estado de S. Paulo por conta da venda da sua antiga rádio Eldorado – hoje Rádio Estadão (AM/700 Khz), – para o missionário R.R. Soares, dono da Igreja Internacional do Reino de Deus. A partir de segunda-feira (25) ela passará a se chamar Nossa Rádio e terá sua programação voltada para o segmento Gospel. A programação da Estadão vai para o canal em FM 92,9 Mhz.

O anuncio da venda foi feito mais cedo pelo jornalista Anderson Cheni em seu blog (http://cheninocampo.blogspot.com.br/) . Trata-se, na verdade, de mais um sinal da péssima situação econômica dos grandes grupos de comunicação. Como o produto que oferecem não rende o necessário para se manterem, eles acabam se desfazendo do patrimônio.

Segundo explicou Cheni “a falta de investimento na emissora, má administração e parcerias que não deram resultados esperados foram fundamentais para a família Mesquita tomar a decisão da negociação”.

A Eldorado, fundada em 1958, marcou época em São Paulo. Se destacou no jornalismo e na programação musical – em qualquer boa discoteca há excelentes discos (vinil e CD) de música popular brasileira com o selo Eldorado,

Na sua página no Facebook, Audálio  lembra que “um negócio desses, feito como outro qualquer, não pode ser considerado normal. Mas acontece frequentemente no Brasil”. Como adverte, “um canal de rádio ou de TV resulta de concessão pública e está sujeito a limites legais. Limites que, no Brasil, são desrespeitados impunemente. Como um bem público pode ser vendido assim, de uma para outra?”, questiona.

Ele cobra uma posição oficial do governo: “Os concessionários da Rádio Estadão estavam autorizados a fazer a transação? A resposta deve ser dada pelo Ministério das Comunicações”.

Por fim, aponta quem sai perdendo com a transação: “Com essa venda, a ex-rádio Eldorado, que marcou época como emissora que privilegiava o jornalismo, a informação, passa a operar no ramo de negócios religiosos.
Quem perde é a sociedade, que, na verdade, é a legítima proprietária dos canais de rádio e TV”
.

Audálio está certo. As concessões de rádio são bens públicos, mas há muito – desde o tempo em que Antônio Carlos Magalhães, o conhecido “Toninho Malvadez”, foi ministro das Comunicações do governo Sarney (escolhido por Tancredo Neves, que não assumiu), as frequências radiofônicas se transformaram em moedas políticas. Passaram a ser concedidas no toma lá, dá cá, do balcão da compra de votos e adesões no Congresso Nacional.

Não é o caso da Rádio Estadão. Mas esta negociação precisava passar por algum tipo de crivo da sociedade ou, pelo menos, do governo. Um maior controle delas (concessões e transferências) é o que todos devemos exigir, em prol da própria cultura do nosso povo.

1 Comentário

  1. Antonio Carlos Ribeiro Fester disse:

    Você, Marcelo, e Audálio têm toda a razão. Há décadas, Cláudio Willer e Ruth Escobar organizaram seminário na AL de SP sob o mesmo tema e com as mesmas reivindicações. Morreu na praia, infelizmente.

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