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Compartilho: O que não se fala do “Mais Médicos”

Marcelo Auler

Não precisava muito mais, o vídeo feito em na aldeia indígena Kumenê, no Oiapoque (AP), no qual o médico cubano Javier Lopez Salazar, com pós-graduação em Medicina Tradicional, mostra o trabalho que desenvolve para recuperar o uso de plantas medicinais, prática antiga dos indígenas que os evangélicos os fizeram abandonar, já seria suficiente para mim para elogiar a matéria postada no site Socialista Morena, da jornalista baiana Cynara Menezes.

mais médicos 2Mas, o trabalho que ela postou nesse final de semana (11/07) – “10 coisas sobre o mais Médicos que a mídia convencional não vai contar para você” – e que eu compartilho no blog é muito mais interessante. Mostra como o “Programa Mais Médicos”, que sofre ataque corporativista das associações médicas, apresenta excelentes resultados. Áreas antes abandonadas, ou que recebiam visitas médicas esporadicamente, hoje se beneficiam de equipes profissionais de saúde por períodos longos – 20 dias corridos -, como destacam os líderes da Aldeia Kumenê.

Prova maior do sucesso do programa é outro dado postado pela jornalista, ao revelar que hoje, já na segunda fase, 95% das vagas abertas foram preenchidas por médicos brasileiros (Ao todo já estão inscritos no programa 18.420 médicos, segundo dados do Ministério da Saúde).

O interessante é que se gasta muito papel nas nossas mídias – e tempo de televisão – com discussões inócuas, campanhas infames, e deixa-se de lado coberturas que outrora ocupariam grandes espaços. Nem que fosse para fazer críticas,  os jornalistas deveriam se empenhar em conhecer de perto o que ocorre Brasil a dentro, como mostrou recentemente Arnaldo César, nesta página com o artigo “O Brasil não conhece o Brasil“. Depois reclamam da perda de leitores e de credibilidade.

 “10 coisas sobre o mais Médicos que a mídia

convencional não vai contar para você

Há exatos dois anos, no dia 8 de julho de 2013, o Brasil foi tomado por uma onda de ira corporativista contra um projeto que visava ampliar a oferta de médicos especializados em saúde da família no País. Naquele dia, o governo baixou a MP (Medida Provisória) criando o programa Mais Médicos, que previa a importação de médicos de diversos países, inclusive cubanos. O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a oposição ao governo tentaram, de todas as formas, impedir que os estrangeiros viessem suprir a carência de profissionais em áreas rejeitadas pelos médicos brasileiros.

O médico Juan Delgado é agredido por colegas em sua chegada; à direita, Dilma pede desculpas oficiais em nome do governo) - Reprodução

O médico Juan Delgado é agredido por colegas em sua chegada; à direita, Dilma pede desculpas oficiais em nome do governo) – Reprodução

Médicos cubanos chegaram a ser vaiados e insultados por colegas em sua chegada no aeroporto de Fortaleza (CE), em uma atitude que surpreendeu os dirigentes da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), parceira do governo federal no programa. “Nunca pensei que fosse chegar a este extremo de preconceito e até racismo, que fossem dizer que as médicas cubanas pareciam empregadas domésticas, que os médicos negros deveriam voltar para a África ou que eram guerrilheiros disfarçados”, lamenta o representante da OPAS/OMS no Brasil, Joaquín Molina.

Neste meio tempo, sempre que a mídia brasileira noticiou o programa foi para contar quantos cubanos fugiram para Miami ou os erros que porventura cometeram, ainda que nunca tenha se concretizado nenhuma condenação. Molina se queixa que, cada vez que era procurado pelos jornais para defender o programa, ganhava um parágrafo na reportagem, contra dez do presidente do CFM atacando a ideia.

“Pessoalmente, acho que a mídia brasileira privilegia a notícia ruim. Nunca vi uma manchete positiva neste país”, critica.

Reuni neste post 10 pontos que a imprensa não destacou para que as pessoas possam conhecer melhor o programa “Mais Médicos”. Confira.

1. O número de médicos na atenção básica à população na rede pública do País foi ampliado em 36%: tinha cerca de 40 mil antes do programa e ganhou 14.462 profissionais, entre eles 11.429 cubanos e 1.187 com diplomas de outros países. A lei priorizou os brasileiros, mas apenas 1.846 se inscreveram na primeira convocatória. Este ano, a situação se inverteu e 95% das 4.146 vagas foram ocupadas por médicos brasileiros.

UPDATE: o ministério da Saúde informou que o número atualizado é de 18.240 médicos no programa.

2. Além de serem reconhecidos como excelentes médicos de saúde da família, a principal vantagem dos médicos vindos de Cuba, segundo a OPAS, é que vieram todos de uma vez, em um pacote. Outra vantagem é que qualquer abandono que não seja por razões de saúde é coberto pelo governo cubano, que envia outro profissional sem nenhum custo adicional para o governo brasileiro. A OMS situa o sistema de saúde cubano entre os 39 melhores do mundo; o sistema de saúde brasileiro aparece na 125ª posição. Ao contrário dos brasileiros e profissionais de outros países, os cubanos também não escolhem para onde querem ir, é o ministério e a OPAS que decidem para onde serão designados.

3. Os médicos cubanos ganham R$3 mil por mês; os outros R$7 mil do salário previsto no acordo vão para o governo de Cuba. Ainda assim, o pagamento que recebem no Brasil é 20 vezes superior ao que receberiam em sua ilha natal. Além disso, os municípios arcam com todas as despesas: transporte, moradia e alimentação. Ou seja, o cubano praticamente não gasta o dinheiro que recebe.

4. Uma avaliação independente feita em 1.837 municípios revelou um aumento de 33% na média mensal de consultas e 32% de aumento em visitas domiciliares; 89% dos pacientes reportaram uma redução no tempo de espera para as consultas. Uma pesquisa feita em 2014 pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), baseada em 4 mil entrevistas em 699 municípios, revelou que 95% dos usuários estão satisfeitos ou muito satisfeitos com o desempenho dos médicos. 86% dos entrevistados afirmaram que a qualidade da atenção melhorou após a chegada dos profissionais do “Mais Médicos” e 60% destacaram a presença constante do médico e o cumprimento da carga horária. Queridos por seus pacientes, vários médicos cubanos têm sido homenageados pelas câmaras municipais por seu trabalho no Brasil.

5. O programa cobre 3.785 municípios, sendo que 400 deles nunca haviam tido médicos. Os 34 distritos indígenas contam hoje com 300 médicos; antes não tinham nenhum. Entre os yanomami, por exemplo, houve um aumento de 490 atendimentos em 2013 para 7 mil em 2014, com 15 médicos cubanos dedicados à etnia com exclusividade. 99% dos médicos que atendem os índios no programa são cubanos.

6. Um dos trabalhos mais interessantes desenvolvidos pelos médicos cubanos nas aldeias indígenas é o resgate da Medicina Tradicional, com o uso de plantas. Na aldeia Kumenê, no Oiapoque (AP), o médico Javier Lopez Salazar, pós-graduado em Medicina Tradicional, atua para recuperar a sabedoria local na utilização de plantas e ervas medicinais, perdida por causa da influência evangélica. (veja vídeo abaixo) O médico estimulou os indígenas a buscar as canoas defeituosas e abandonadas nas beiras dos rios para transformá-las em canteiros de uma horta comunitária só com ervas medicinais, identificadas com placas e instruções para uso.

7. Ao contrário do que os jornais veiculam, os médicos e médicas cubanos não são proibidos de se casar com brasileiros. Existe uma cláusula que os obriga a comunicar os casamentos para evitar bigamia em seu país natal, segundo a OPAS. Os casos de romances entre médicos/as e brasileiros/as são numerosos. Houve até uma prefeita em Chorrochó, na Bahia, que se casou com um médico cubano.

8. Desde que o programa “Mais Médicos” começou, 9 médicos cubanos morreram: cinco por enfarto, 3 por câncer e 1 por suicídio (em 2014, um médico de 52 anos, ainda em treinamento, foi encontrado morto em um hotel de Brasília, possivelmente por enforcamento). Até agora, somente oito abandonaram o programa e deixaram o país rumo aos EUA.

9. O programa “Mais Médicos” virou modelo no continente e países como a Bolívia, o Paraguai, o Suriname e o Chile, que também sofrem com falta de profissionais, já planejam fazer projetos semelhantes.

10. Além do atendimento de saúde, o “Mais Médicos” inclui a ampliação da oferta na graduação e na residência médica e a reorientação da formação e integração da carreira. A meta é criar, até 2018, 11,5 mil novas vagas de graduação em medicina e 12,4 mil de residência médica, em áreas prioritárias para o SUS. Os municípios onde serão instalados os novos cursos de medicina foram escolhidos de acordo com a necessidade social, ou seja, lugares com carência de médicos.

Texto original em: http://socialistamorena.com.br/

 

2 Comentários

  1. Douglas caetano disse:

    Interessante.
    O problema é a forma que esse contrato foi celebrado, valores…, e porque o Governo de Cuba tem aue receber maior parte do salário desses proficionais?
    Só me tire umas duvidas:
    # Qual é a população de Cuba?
    # Quantos médicos Cuba possúi formados?
    # Quantos desses foram enviados pro Brasil?
    # Eles (povo cubano) terão médicos sufientes para sua própria nação? No caso de nosso Governo resolver trazer mais “mais médicos? ” E se nossos “hermanos” resolverem tirar um pouquinho dos médicos cubanos, será o que sobrará?

    • João de Paiva disse:

      Algumas das perguntas são fáceis de responder. Para saber a população de Cuba, basta buscar a informação na internet, sobre o último censo demográfico. Profissionais (com “ss” e não com “c”) são os indivíduos que se qualificaram e podem provar (por meio de documentos) que são capacitados para determinada atividade, ou seja, que têm uma profissão. O governo cubano recebe a maior parte dos recursos pagos pelo governo brasileiro como salário, aos médicos daquele país contratados para o programa Mais Médicos, porque em Cuba o governo e o Estado é que bancam toda a formação dos profissionais de medicina; lá não existem faculdades particulares de medicina, que visam o lucro. Quanto ao nº de médicos cubanos enviados ao Brasil, basta consultar informações sobre o programa “Mais Médicos”; na matéria resumida neste blog se afirma que 11.429 médicos cubanos foram enviados ao Brasil, na 1ª fase do programa. O nº de médicos formados de que Cuba dispõe pode ser obtido em órgãos oficiais daquele país, os quais possuem as estatísticas sobre o nº de profissionais formados a cada ano e sobre o nº de profissionais habilitados e aptos ao exercício da medicina. Se o país caribenho (Cuba) não dispusesse de médicos suficientes para atender a população local, você acha que eles enviariam esses profissionais para trabalharem no exterior? Cuba tem simplesmente a melhor medicina preventiva do mundo; em Cuba a mortalidade infantil é menor que nos EUA. E Cuba é um país paupérrimo, como qualquer visitante que por lá esteve (ou viaje) pôde (poderá) constatar.

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