Moro na encruzilhada
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Marcelo Auler (*)

Sérgio Moro, até a manhã desta quarta-feira (26 de abril), não oficializou a mudança de data do interrogatório de Lula, como pediram o superintendente da PF no Paraná e o secretário de Segurança do Estado, na tentativa de desmobilizar as caravanas de apoio ao ex-presidente.

Sérgio Moro, na manhã desta quarta-feira (26 de abril), oficializou a mudança de data do interrogatório de Lula.

Há uma única razão para que o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja adiado do  próximo dia 3 para o dia 10 de maio, como defendem autoridades da segurança do Estado do Paraná: o medo. Adiar o depoimento é um artifício para tentar desmobilizar as muitas caravanas que se organizam para ir à capital paranaense.

Amedrontados com essa mobilização dos apoiadores de Lula, que já se organizaram para a viagem ao Paraná na próxima semana, surgiu a proposta de adiamento. Com ela, as autoridades da área da segurança no estado torcem para que, sem nenhum feriado próximo à nova data, caia o número de manifestantes que pretendem apoiar Lula quando ele estiver diante do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal. Se isso dará certo, só o tempo dirá. Petistas, sindicalistas e movimentos sociais prometem manter a mobilização a qualquer custo. Querem transformar o depoimento de Lula em um ato político de apoio ao mesmo.

EM TEMPO: Atendendo aos pedidos do secretário de segurança e do superintendente da Polícia Federal, o juiz Sérgio Moro, em despacho proferido na manhã desta quarta-feira (26/04) adiou o depoimento de Lula para às 14h00 do dia 10 de maio.

Falar em falta de tempo para a Polícia Federal do Paraná se preparar, ou mesmo de uma expectativa de que surjam mais provas para que Moro possa prender o ex-presidente, é mera tentativa de desviar o foco da razão principal: a mobilização popular está assustando. E muito.

Os fatos demonstram isso cabalmente. A Polícia Federal treinou o suficiente, há cerca de um mês, como informamos na postagem anterior – Moro na encruzilhada, na qual Arnaldo César recorda, e alerta ao juiz Moro, sobre o tumulto criado no famoso episódio da “Guerra do Pente”, ocorrido em 1959, naquele estado. Algo a não ser esquecido neste momento em que muitos estão, como definiu uma leitora, “de cabelo em pé”.

Conversas com fonteDEFINITIVOÉ bobagem, também, pensar que novas provas surgirão em um espaço de sete dias. As cartas estão na mesa e se Moro quer realmente levantar o troféu da prisão do ex-presidente terá que fazê-lo sem provas concretas e cabais, apenas com base nas suas “convicções”.

O treinamento durou uma semana, todos os dias, no prédio anexo à sede da superintendência, no bairro de Santa Cândida, em Curitiba.

Este prédio, de apenas um andar, passou por reformas custeadas pelo Sindicato dos Policiais Federais do Paraná para ser um local de recreação. Transformou-se em área de treinamento e, hoje, serve de depósito do material apreendido na Operação Carne Fraca.

Foi nele que a Polícia Militar repassou aos agentes federais informações e táticas de controle de conflitos urbanos. Não foram aulas meramente teóricas. Mas tudo foi feito à porta fechada, para que os que estavam de fora não soubessem o que se passava dentro.

Apesar disso, há duas semanas, em uma reunião do superintendente do DPF no Paraná, Rosalvo Ferreira Franco, com seu colega, o delegado Federal Wagner Mesquita, hoje secretário de Segurança Pública do governo do tucano Beto Richa, Mesquita sugeriu o adiamento do interrogatório.

No encontro estavam outros participantes dos órgãos de segurança do estado. Rosalvo, porém, naquele momento, resistiu à ideia, alegando que a Polícia Federal resolveria tudo. Os dois ficaram de conversar posteriormente.

Pelo jeito, Mesquita convenceu o seu colega do DPF. Ele fora enfático no encontro segundo revelaram ao Blog: “foi categórico na necessidade de mudar a data”.

Sua principal tese é o feriado do dia 1º de maio, não tanto pelas festividades, mas por permitir o deslocamento de um maior número de pessoas para Curitiba. A mesma fonte que nos passou as informações acima, acrescentou:

“A questão é que o feriado do dia 1, fará com que tenha mais pessoas no protesto (…) Não é tempo de preparação.
Isso é cascata. É para esvaziar o protesto”.

Após se acertarem, os dois oficiaram a Moro, no dia 24 de abril, com a sugestão da mudança que acabou aceita na manhã desta quarta-feira (26/04), como diziam que aconteceria.

Provavelmente, as ponderações do secretário de Segurança ocorreram depois de uma “reavaliação do panorama”, tal como uma fonte do Blog, ligada à área de Segurança do Paraná, admitiu quando a procuramos.

Foram duas conversas por escrito via internet, quando tentamos confirmar a informação da mobilização do grupo de direita Movimento Brasil Livre (MBL).

Os diálogos ocorreram respectivamente nos dias 11 e 13 de abril (veja íntegra ao lado, na qual mantenho os erros de digitação).

Por ética profissional estamos impedidos de identificar esse interlocutor, mas trata-se de fonte bem informada que jamais errou nas suas informações.

Curiosamente, na época (duas semanas atrás), a fonte dizia que ainda era cedo para uma avaliação. Negou saber de mobilização de grupos defensores da prisão de Lula, mas reconheceu a preocupação com as caravanas de aliados do ex-presidente.

Nessas conversas o Blog desconhecia o treinamento dado pela Polícia Militar do Paraná aos agentes da Polícia Federal. Esta informação nos foi dada na recente viagem a Curitiba (de 18 a 21 de abril). Na capital paranaense tentamos um contato pessoal com a fonte, mas ele não ocorreu.

O relato abaixo nos foi passado por servidores da Superintendência da Polícia Federal no Paraná:

houve treinamento  pratico também… só que foi em local fechado… ouvíamos o barulho, mas não conseguíamos ver…
Dias seguidos, dia todo, foi em um anexo da superintendência“.

O número exato de agentes federais treinados não foi possível saber, apenas que foram menos de 50. Serão os responsáveis pela segurança em torno do prédio da Justiça Federal, na Avenida Anita Garibaldi, 888, bairro do Ahu, em Curitiba. Pelo acertado, o trânsito será fechado, limitado a circulação a moradores e provavelmente de quem trabalha naquela área.

Por conta desta limitação no trânsito é que houve o cadastramento de moradores e pessoas que trabalham na região. Algo que a fonte do Blog, nos diálogos de 11 e 13 de abril, considerou normal em grandes eventos como jogos de futebol e lutas do UFC. Ao lado da sede da Justiça há um grande prédio comercial, inclusive com escritórios de advogados com causas nas Varas Federais.

O curioso é que a data do interrogatório foi escolhida por livre arbítrio pelo juiz Sérgio Moro, que preside o processo. Ele tem poderes de adiá-la, mas ao fazê-lo estará reconhecendo a preocupação com a mobilização de petistas. Estes, por sua vez, conscientes de que o adiamento é uma tentativa de desmobilizar as caravanas, não deram sinal de recuo, como revelou um dirigente do partido:

 “Estamos mantendo a ofensiva e tentando constranger o Secretário de Segurança“.

Após se entenderem, Rosalvo e Mesquita enviaram os seus ofícios ao juiz Moro, no mesmo dia 24 de abril.

Após se entenderem, Rosalvo e Mesquita enviaram os seus ofícios ao juiz Moro, no mesmo dia 24 de abril.

Agradecimentos: Parte das informações desta reportagem foram obtidas por conta da ajuda de amigos, colegas de profissão, editores de blogues como Brasil 247, Tijolaço (além de Luis Nassif, que sempre recepciona o editor do blog em São Paulo) e aos nossos leitores que contribuíram financeiramente com os custos da viagem a Curitiba. Uma nova ida a Curitiba ocorrerá no dia do depoimento de Lula. A todos que contribuíram, àqueles que contribuem normalmente conosco e os que vierem a dar novas contribuições para cobrir estas despesas, meus sinceros agradecimentos.

(*) Matéria reeditada às 12H00 para acrescentar a decisão do juiz Sérgio Moro.

6 Comentários

  1. C.Poivre disse:

    Já troquei minha passagem para o dia 10, assim como minha reserva de hotel. E farei isso quantas vezes for necessário para prestar minha solidariedade ao ex-Presidente Lula, vítima de perseguição política internacional comandada por um agente da CIA travestido de “juiz”. E acho que a adesão vai ser até maior do que seria dia 03.

    • ari disse:

      Pela distância (moro no sertão da Bahia) e por dificuldades financeiras, não posso estar lá. Por favor, represente-me a mim e aos milhares de outros que não podem ir

  2. Marcelle disse:

    Na hora que li essa notícia só veio essa intenção na minha cabeça, a de desmobilizar o movimento!

  3. João de Paiva disse:

    A marcação do interrogatório-espetáculo para o dia 3 foi friamente calculada; ou seja, como presente de 1o de maio os trabalhadores receberiam do torquemada tupiniquim a condenação do seu maior líder e a proscrição do PT.

    Os leitores do blog devem se lembrar que há exatos dois anos, em 25 de abril de 2015, o torquemada paranaense vazou para o “estadinho” a sentença de condenação de José Dirceu, que foi publicada/prolatada somente 28 dias depois, em 23 de maio. Foi Marcelo Auler quem detectou e denunciou isso, capturando a tela da versão online do jornal, modificada poco depois.

    Portanto, sérgio moro e comparsas da Fraude a Jato, além da arapongagem e do aparelho repressor do Estado, hoje a serviço das quadrilhas oligárquicas, plutocráticas, escravocratas, cleptocratas, privatistas e entreguistas, planejaram a imolação do maior líder trabalhista brasileiro exatamente para semana em que se comemora o dia do trabalhador.

    As negociatas, subornos e propinas que a quadrilha chefiada por michel temer conduz em Brasília, para passar o rolo compressor na CLT, nos direitos trabalhistas e previdenciários, foram cuidadosamente planejados para o final de abril e início de maio, como os mesmos objetivos sórdidos.

    A mobilização popular tem de ser grande e constante; caso contrário a degola dos direitos será feita de forma cruel, impiedosa. Todas as máfias burocráticas, oligárquicas e da caserna estão irmanadas no golpe e na repressão e supressão dos direitos dos trabalhadores, dos pobres e dos socialmente e secularmente explorados e excluídos. O PIG/PPV, assim como as máfias burocráticas estão a soldo do alto comando internacional, que fica nos EUA. As oligarquias nacionais são parceiras dos chefes estrangeiros, mas estes é que mandam e dão as cartas. O ataque à Petrobrás, ao setor energético em geral, aos projetos e áreas estratégicas – como aeroespacial, nuclear e de defesa – não é mero acaso ou para combater corrupção. A ordem para o desmonte dos setores em que as empresas de capital nacional eram competitivas e concorrentes das corporações estadunidense partiu de Washington; os lavajateiros recebem ordem e servem ao DOJ, à NSA, à CIA, ao Pentágono, ao FBI.

    Os golpistas se acham sofisticados, mas já foram desmascarados, desnudados e estão com as mãos no bolso; eles têm o poder e o aparato repressor em suas mãos, mas a verdade e o julgamento histórico, que já os condenaram à pena máxima, estão com as classes trabalhadoras e com os excluídos que hoje se conscientizam e apoiam Lula.

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